30 maio 2008

peixes e ben10 - parte 1

*
*
É um cruzeiro-do-sul o novo morador de casa. Um vitorioso. Eu tinha dúvidas se esse peixe iria sobreviver depois que saiu da Cobasi. Demorou horas para a gente escolher dentre tantos outros. O primeiro que a gente escolheu, tentou suicídio. Pulou para fora d’água, preferiu a morte seca do que vir para nossa casa. Daí, pegaram o Max. Foi assim que o Felipe batizou esse simpático e corajoso cruzeiro-do-sul, numa singela homenagem ao vovô do Ben10. Para quem não conhece o Ben10, saibam que é o herói do meu filho. Se o Fê pudesse escolher ser alguém neste mundo, ele seria o Ben10, junto com o Homem Aranha.
O Max, nosso recém-peixe, é sem sombra de dúvida, quase um tubarão pela força e braveza. Da saída da loja até o carro, o Fê foi passando o saquinho do peixe e um picolé de uma mão para outra. Pintou o saco de rosa, porque o picolé era de chambinho. Abri a porta de trás, o Fê sentou no banco e deixou o booster desocupado, afinal, ‘o Max é pequeno e pode se machucar, né mãe?’ Será que ele quer que eu passe o cinto de segurança no saco com peixe?
*
Pois bem, na primeira curva a menos de 5 km/h, o Max rolou booster abaixo.
- Olha só o que você fez mãe! Esqueceu de colocar o cinto no Max! Vai mais devagar! Cuidado, mãe! Cadê ele?
O Fê se enfiou debaixo do banco para resgatar o peixe rolante.
- Tá tudo bem, filho? O saquinho não rasgou, né?
O Fê nem me deu ouvidos.
- Vem cá peixinho, eu vou deixar você aqui do meu lado.
- Tá tudo bem, Fê? – tentei de novo.
Sem resposta, olhei pelo retrovisor e não vi nada. Encostei o carro, virei para trás e achei a criatura Fê deitada no banco.
- Fê? E o peixe?
- Tá aqui mãe... tô segurando ele... tá nadando.
O Fê segurou o peixe com a cabeça. Usou o saquinho como travesseiro.
O Max, pensei, está nadando ou se estrebuchando?
*
Da Cobasi até a nossa casa, é uma reta só. Mas a novidade do peixe tinha que ser mostrada para a tia. A reta então, agora era um desvio até o apartamento da minha irmã. O moço da loja disse que os peixes agüentam até 3 horas quando transportados naqueles saquinhos. Ele só não disse em quais circunstâncias.
*
- Olha tia! Olha o meu peixe novo! É o Max. Vai ficar junto com o Kevin no banheiro.
Kevin é o inimigo do Ben10 e o nome de um outro peixe do Felipe. É um beta (aquela espécie solitária e briguenta, feito uns seres humanos), então o ‘ficar junto’ era só força de expressão.
O Fê gosta de dar nome aos peixes. Tem o Diego e a Dora, em homenagem ao Diego e a Dora. Tem o Luís, que não faço a mínima idéia do porquê da escolha do nome. Tem os Comedores-de-cocô, digo, Comedor-de-cocô-1, Comedor-de-cocô-2, Comedor-de-cocô-3 e assim vai. Engraçado é que nunca ele escolhe o nome de um herói. Deve ser porque se o peixe for o herói, quem o Felipe vai ser? Faz sentido, não?
*
- Tia, liga a televisão! Vai começar o Ben10!
O anúncio foi dado e lá estava o meu filho na frente da tv, recebendo o espírito do Ben10. Bonito como as crianças incorporam os personagens. Não é representação cênica, é vivência e desejo aflorado mesmo. Em meio a poderes e cambalhotas tortas, o Felipe entrou na estória, desafiou os inimigos, foi quase derrotado, recuperou as energias e saiu distribuindo as glórias. Com coreografia, sonoplastia e tudo mais. E o Max? O vovô Max foi salvo pelo Fê-Ben10. O peixe Max ficou esquecido no sofá da casa da tia.
Eu fazia a contagem regressiva das 3 horas desde que aquele cruzeiro-do-sul tinha saído das águas da Cobasi. Quantos flash-backs da vida dele será que ele viu passar? Esse peixe devia se chamar peixe-gato ao cubo, com 343 vidas. Haja pecado para ser pago. Na outra encarnação, deve ter sido o peixe-bin-laden.
*
Considerando que as condições normais de temperatura e pressão estavam a milhas do padrão, eu finalmente resolvi não esperar o episódio do Ben10 acabar. Levei o pequeno Max-socado-catatônico-sem-oxigênio para casa. O Fê ficou no apê da tia. Fiz todo o ritual de soltar um peixe novo no aquário velho e deu dó. Ele afundou, rodopiou, afundou. Parecia que estava se afogando. Ele mal tinha forças. Fez o mesmo movimento que a Terra faz quando gira em torno do seu próprio eixo (ele transladou??). Eu juro que pensei em voltar para a Cobasi e comprar outro por garantia, porque dificilmente o Max passaria daquela noite.
*
Estranho é que todos os peixes que o Fê deu um nome estão vivos até hoje. Os anônimos morreram, sem exceção. Acho que quando o Felipe batiza os peixes, ele o faz com pureza, porque aquilo é a verdade para ele e para quem ele oferece um nome. É uma forma de benção, de doar um poder especial, coisa que só os heróis conseguem fazer. Talvez seja isso que faça o Max passear tranqüilamente pelo nosso aquário até hoje.
*
Seja como for, eu admiro o Max. Junto com o Fê, ele é um herói.
*
*
*
ps: nenhum peixe da foto é o Max. E também não é o Kevin, nem a Dora, o Diego, o Luís ou um Comedor-de-cocô. São peixes sem nome, portanto, já morreram.
*
*

Nenhum comentário: