31 julho 2008

e o vento levou

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Eu gosto de ter no repertório histórias engraçadas. Melhor ainda se aconteceram comigo – é bom rir de si mesmo. O que divido aqui, aconteceu semana passada.
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Como todas as crianças, o Fê enrola para comer coisas saudáveis. As tranqueiras são consumidas numa boa, mas a tal refeição balanceada só desce goela abaixo se ficar no pé dele. Nos últimos dias, o ar está seco, o tempo árido e o skyline poluído. Eis nosso belo inverno. O nariz do Fê não tem dado trégua – parece estar 97% obstruído. Juntando a falta de fome, a preguiça nata na hora das refeições e uma pitada de bondade de vovó, o Fê colocou a cabeça para funcionar.
Era um almoço-pré-escola-normal na casa da minha mãe. Como toda casa-de-vó, netos quebram regras com uma facilidade tremenda. Nesse dia, ele poderia almoçar na sala assistindo Padrinhos Mágicos. Uau!
Montei um prato corretíssimo: arroz, feijão, couve picadinha, proteínas, verdinhos e vermelhinhos. Do jeito que ele não gosta. Pois bem, deixei na mesa da sala, virei as costas e soltei um “come tudo sozinho, hein!” De volta para a cozinha, fiz meu prato, dei uma garfada, duas garfadas, três garfadas. Na quarta, o meu celular tocou. Fui atender na sala. Oi, tudo bem? quanto tempo!! blábláblá... ah, tá bom, vâmu combinar sim... e blábláblá de novo.... Nooossa!! Fê? Caramba, você comeu tudo??
O prato dele estava limpinho. Não tinha um grãozinho de arroz. Morri de orgulho.
- Parabéns Fê! Comeu tudinho!
- É...
- tava gostoso?
- a polenta sim
- que polenta? não tinha polenta
- tinha sim
- você quer mais?
- uhm-uhm – balançando a cabeça na horizontal.
- quer sobremesa?
- uhm-uhm
- vou levar o seu prato pra cozinha, tá?
- tá
- puxa Fê, eu até tinha colocado a mais e você comeu tudo tu-di-nho!

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Era orgulho-de-mãe transbordando da minha boca. Peguei o prato, o copo e o garfo. Silêncio. Mais silêncio. Silencio ao cubo.

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- Fê, por que o garfo tá limpinho?
- hã?
- você comeu com a mão?
- hum-hum – agora balançando a cabeça na vertical.
- foi você mesmo que comeu a comida?
- foi
- não foi não. Você comeu rápido demais. Quem comeu a sua comida Fê?
- hã?
- cadê a comida que tava no seu prato? Você deu pro cachorro?
- uhm-uhm – num vai-e-vem de cabeça na diagonal.
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De vez em quando os cachorros aproveitam a nossa distração para variar o cardápio. Tá, pegar uma carninha ainda vai, mas comer o prato todo? Isso já é demais! Fui atrás deles.
Os cães estavam fora da casa, não foram eles. Preferem ficar no quintal quando é dia da faxineira.
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O Fê gosta de ajudar na faxina: jogar água no quintal, ensaboar o chão, puxar o rodo, passar pano nos vidros, varrer. Pouco antes do almoço ele estava ajudando a faxineira na limpeza da sala – ela tirava o pó do piano e o Fê passava o aspirador do chão. Ela foi lavar o pano no tanque enquanto ele iria almoçar. Ele, eu digo, o aspirador.
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imagens: (1) Excited Tomato /(2) Eager Orange, Elffers & Freyma
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30 julho 2008

amor de dois

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- posso te contar um segredo?
- claro que pode
- sabia que eu te amo?
- sabia sim... eu também te amo
- te amo mais do que magia
- eu também te amo mais do que magia
- eu já sabia
- boa noite, meu anjo
- boa noite

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imagem: Kyoto Spring II, Jokelson
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fórmula antiga

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Elegância no gestual, humildade no pensar e sensatez no falar ainda compõe o melhor cartão de visitas para qualquer situação. Cada coisa esquisita que me aparece no escritório.
Quem não possui esse composto, deveria ter a chance de comprá-lo em vidrinhos de fórmulas manipuladas.
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imagem: Artichoke Coat, Elffers & Freyma
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priga e coldplay

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The Scientist
Coldplay
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Come up to meet you, tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are
I had to find you, tell you I need you
And tell you I set you apart
Tell me your secrets and ask me your questions
Oh let's go back to the start
Running in circles, coming up tails
Heads on a silence apart
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Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh, take me back to the start
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I was just guessing at numbers and figures
Pulling the puzzles apart
Questions of science, science and progress
Do not speak as loud as my heart
And tell me you love me, come back and haunt me
Oh, when I rush to the start
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Running in circles, chasing in tails
Coming back as we are
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Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
I'm going back to the start
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O Coldplay lançou um álbum novo. O Priga curtia esse som. Foi um dos últimos shows que assistimos juntos. Se alguém quiser me dar o cd novo, eu aceito.
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imagem: Reach, Gilbert & George Tee
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26 julho 2008

sonho meu

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Sonhei com um incêndio em casa. Dois dias depois, a secretária não veio trabalhar porque pegou fogo na casa dela.
Carai – se continuar assim, prefiro que a insônia volte...
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imagem: Dream of the Kangaroo and the Emu - Aboriginal Art
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25 julho 2008

espetinhos de camarão

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Eu sou maria-vai-com-as-outras demais da conta. Hoje visitei a terceira escola para o Fê. Por que é tão difícil decidir qual a melhor? Por que eu tenho que ser tão criteriosa? Por que é tão difícil deixar de lado a vaidade e ser honesta na escolha? A escola é para mim ou para o Fê? Por que eu coloquei esse assunto no blog? Por que espetinhos de camarão?
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24 julho 2008

jogo de memória

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Tenho uma amiga de infância. Não estudamos na mesma escola, nunca fomos vizinhas, tampouco trabalhamos juntas, mas a nossa amizade tem perfil de cartão fidelidade: sem data de validade, pontos que se acumulam para nosso desfrute e não nos custa nada mantê-lo – pelo contrário, só nos dá benefícios.
Em comum, ou quase comum, temos o nome – Mina e Nina. Tivemos namorados iguais em épocas diferentes. Temos mães professoras: a dela de piano e a minha de japonês. Encontram-se às terças para ensaios do coral. A dela rege e a minha canta, junto com a Mina.
Outro dia ela, a Mina, deixou um comentário aqui no diga tu do nana-nina-não. Falava sobre registros e memórias. O tema ficou saltitando pela cabeça por uns bons dias.
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Mina disse...
Dizem que há mais de 2 mil anos atrás os egípcios escreveram nas pedras e assim a humanidade conseguiu manter os registros mas daquí para frente... a gente escreve e grava nos CDs, guarda tudo no Pendrive e nossa memória, a real não a virtual , onde será que vai parar? daquí a 2 mil anos???
22/7/08 05:12
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Nina diz...
Espero que a minha memória real não saia do lugar. Espero que ela fique na minha cabeça enquanto a humanidade existir, que não vá para frente, nem para trás. Fique onde está porque só ela me justifica. É só a mim que tem servidão, mais ninguém. Eu tenho as chaves que abrem as gavetas mais obscuras e nobres, mais assombrosas e evoluídas.
Os meus atos e desatos, os outros se encarregarão de mantê-lo no tempo. A minha memória, somente eu posso carregá-la. Dádiva ou punição, sou a única que saberei nomear. Já é o suficiente para não querer compartilhar com ninguém.
Mina, obrigada pelo seu post. Talvez tenha sido descomprometido, mas o seu recado me fez queimar neurônios. Isso é muito bom – thanks.

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imagem: Hôtel des Roches Noires, Trouville - Monet

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22 julho 2008

tirando o atraso

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eu amo o pacote de inverno da 2001... quatro catálogos por 7 dias... passei o rodo!
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- Moça com Brinco de Pérola
- Juno
- Stealing Beauty
- A Noiva Cadáver
- Zodiac
- Trainspotting
- As Bicicletas de Belleville
- Seven
- Viagem a Darjeeling
- Cartas de Iwo Jima
- Pão e Tulipas
- Ligeiramente Grávidos
- Babel
- Ran
- Pequena Miss Sunshine
- Buena Vista Social Club
- Nove Rainhas
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imagem: black and white images
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21 julho 2008

rapidíssima

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fim-de-semana na praia, reunião em Sorocaba na manhã de terça = 2a feira apertadíssima. Hoje o dia precisaria ter 36 horas.
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Fê-losofando – poucas e boas:
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- a galinha, o pintinho, o pato e a garça andam de cocorinha. Eles são animais cocorinhas.
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- sabia que a Mari e a Tati são irmãs gênias?
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- às vezes o azul é vermelho – mas o vermelho não pode ser azul.... e nem verde.
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18 julho 2008

a mulher, a caixa de gordura e um sonho

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Nunca mais tive pesadelos. Já me bastam alguns dias péssimos quando estou acordada. Meus sonhos são apenas bons ou ruins.
Ontem foi uma noite agitada. Noite mal dormida. Recebi muitas visitas. Algumas esquisitas. Lembro de uma agulha na garganta. Foi dolorido. Tive muitos sonhos, mas nenhum que eu pudesse lembrar a ponto de descrever uma narrativa. Minto, houve um sonho nítido sim. A mãe de um arquiteto, colega de trabalho, tinha uma história para contar. Chamou o filho e o sobrinho para revelar pequenos segredos da família. Era importante que ela explicasse como aquela casa havia sido construída. Desde o início, antes das fundações. A casa era do sobrinho. Eu era uma estranha e a construção da casa foi o único assunto que me foi compartilhado. O restante, eram intimidades que eu não ouvia – e que não me interessavam.
Hoje eu conheci essa senhora pessoalmente. A casa que ela descreveu no meu sonho é o lugar onde eu trabalho. Ela veio até o escritório com algum propósito e fomos apresentadas. E hoje, eu tive que descobrir como aquela casa havia sido construída. Eu precisava localizar uma caixa de gordura, coisa que só quem acompanhou a execução saberia dizer onde está.
Que catso é isso? Eu conheci uma pessoa que tinha conhecido só no sonho. Ela explica como uma casa foi construída. E eu precisei dessa informação para resolver uma coisa real. Doidera.
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imagem: David et Bethsabée, Marc Chagall
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17 julho 2008

butterflies

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(...)
Todos nós temos pulsão de morte, sadismo, autodestrutividade.
A gente não escolhe ter isso.
A gente escolhe o que faz com isso.
Uns matam, violentam, corrompem, mutilam.
Outros viram cirurgião, dentista, psicólogo, ginecologista, lixeiro.
Freud chama isso de sublimação.
Para eu não matar e não me matar, eu escrevo.
Em escrevendo sobre a morte, eu não preciso morrer, porque morro em palavras, prosa e poesia.
E assim me salvo.
(...)
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Érica, orgulho de irmã - e que tem um butterfly tatuado - em troca de e-mails.
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imagem: Butterflies, Salvador Dali
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eu queria transcender

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'(...)
Ainda que o problema não seja solucionado, poucas coisas são mais importantes do que iluminar a consciência com visões mais amplas.'

Personare, 04/07/2008

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- porque depois de ler isso ao invés de me sentir gloriosa, eu me sinto um cocô??

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imagem: Figur vor roter Sonne de Mirò
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16 julho 2008

rio de janeiro, 1959

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Of God and gold
Vinicius de Moraes

As gold breeds misery
Misery breeds light
That makes the stones glare
For the pauper’s delight.

Light is but the pauper’s gold
Stones are but rocks
That pave the way where run
God’s miserable flocks.

The world has manny rocks
God has many flocks
God’s a shepherd, I was told
God is made of gold.

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foto: Cocteau Jewellery
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charada na cozinha

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- Mãe, sabe qual é o meu filme favorito?
- Dá uma dica Fê...
- Começa com Z.
- Zorro?
- Errou... começa com Z
- ZZ Top?
- Não mãe... não é esse...
- Zezé d’Carrasco e Puritano?
- Que isso mãe?!?
- Sei lá Fê... eu não sei...
- Zincríveis mãe! É Zincríveis! Ponto prá mim.
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15 julho 2008

susto

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- quem é você?
- o pior dos seus pesadelos
- caralho – então eu sou você?

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imagem: Black and White Images
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saldo positivo

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Pois bem, hoje é dia 15. É o dia que vence todas as minhas contas. Contas que não chegaram por causa da greve dos correios. As de débito automático, nem me preocupei. Sobraram Tim, Net+Virtua e Telefônica. Para cumprir o meu papel de cidadã exemplar, tentei pegar segundas vias on-line dos boletos. Fracasso. Liguei para cada um dos serviços pelo menos 3 vezes.
Pasmem: não consegui sequer pegar o número do código de barras pelo telefone. Longos minutos de espera, sistemas em estado de coma, desculpe senhora, somente o assinante pode solicitar tal informação. Sim, eu entendo, mas o assinante faleceu, hoje vive em outra dimensão e a linha está no processo do inventário. Você poderia me fazer o favor de me ajudar? Eu só quero pagar uma conta sem multa, porra!
Não adianta perder as estribeiras. Já percebi isso. Não consegui pagar conta nenhuma. Nenhuminha.
A greve dos correios está mantendo meu saldo bancário positivo. Não chega conta nenhuma, então não sai din-din nenhum. Beleuza.
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foto: Enfant Avec Singes _Drysdal
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14 julho 2008

clipping

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é isso gente - escrevemos para que outros escrevam - escrevemos para nossos umbigos, escrevemos na frente dos espelhos, na pele de nossos amados, escrevemos para nossos pais e nossos filhos, sob a sombra de abajures, em guardanapos, na palma da mão.

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e ao longo da vida ou da morte, a gente vai tecendo esse diálogo vivo, escrito ou falado, sonhado ou vivenciado, tanto faz.

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Rio de janeiro, 1960

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Poética (II)
Vinicius de Moraes
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Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz cimento
Da minha poesia.
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E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
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Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
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Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus!
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foto: atelier de cerâmica Suenaga & Jardineiro / Cunha, julho 2008

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11 julho 2008

fê-losofando

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- o gosto da minha água está doendo (= minha garganta dói)
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- meia e sete da noite é tarde ou cedo?
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- eu te amo mais do que ficar na piscina
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- o meu arroto chama azul
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- como chama aquela arma que faz trrrrriiiiiii? Metrilhadora
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- a letra “m” começa com que letra?
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- a tartaruga corre em câmera lenga? E o caramujo?
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- na poncabanda o hepicótamo vem junto com o macaco da floresta (= na propaganda, o hipopótamo acompanha o macaco na floresta)

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foto: felipe em viagem para cunha / julho 2008
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10 julho 2008

Paris, 1957

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Poema para Gilberto Amado
Vinicius de Moraes

O homem que pensa
Tem a fronte imensa
Tem a fronte pensa
Cheia de tormentos.
O homem que pensa
Traz nos pensamentos
Os ventos preclaros
Que vêm das origens.
O homem que pensa
Pensamentos claros
Tem a fronte virgem
De ressentimentos.
Sua fronte pensa
Sua mão escreve
Sua mão prescreve
Os tempos futuros.
Ao homem que pensa
Pensamentos puros
O dia lhe é duro
A noite lhe é leve:
Que o homem que pensa
Só pensa o que deve
Só deve o que pensa.
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Tato, você pode achar piegas, mas este post é em sua homenagem. Grande amigo que pensa.
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conclusão

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na sandice de seus sessenta e tantos anos, ele tinha razão.

desde o dia que ele se foi.

desde o dia em que ele nasceu.
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08 julho 2008

brancos

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... e todas as pinturas, recentes ou antigas, nítidas ou não, desbotam-se a cada tentativa de recordá-las ou de reconstituí-las. Somente algumas breves nuances de brancos não se apagam jamais.
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Ontem eu quis negar aquela beleza. Por onze, talvez doze minutos incompletos e interpretados. Uma dança de movimentos arranjados, que de tão mecanicamente repetidos convergem-se em superfícies de luzes divinas e sons seqüestrantes, absolutos e plenos. E fascinantes. E belos por excelência.
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Um forjado estado de surdez distanciou-me da sedução, da fusão cúmplice do casal de bailarinos naquele ato. A combinação inaudível de quatro mãos que se atraem porque são de um mesmo membro, de um mesmo corpo, de uma única fala – seja a minha pele. Abstraio meus sentidos e recrio os cabelos-pincéis daquele homem que retratava nossa relação em cores vivas. Nas pinturas, e nele, eu via o rubro dos meus pêlos por seus olhos. Seus pingos de suor deixaram-me sinais no rosto. Por muitas e muitas luas, sentia pernas aquecidas a se deslizarem úmidas, trançadas, inseparáveis. Sou sua pele.
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Amputaste meus dedos, não te toco mais.
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Um sussurro na platéia produz faíscas da dança leviana em meus ouvidos. Peço-lhes por favor, mantenham-se mudos e cerrados. Continuo na lembrança dos cheiros ruidosos desfazendo-se entre intervalos de uma respiração ofegante e soluços abatidos. Transpiro êxtase ao absorver aquele único orgasmo após o penúltimo. Pulsante e etéreo. Pulsante e eterno.
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No palco, feito fotografia em movimento, a sincronia do casal exibia a plenitude que ora eu repudiava. Dança, música e silêncio. Silêncio ofuscante para me reavivar nas pinturas de cores gastas. Não carrego mais o verde para retocar seus olhos. Procuro por toda a casa, por dentre as estantes, atrás das cômodas. Outras luas se vão e retoco-os com o pouco que me resta de tinta amarela. Antes que seus preciosos olhos se percam.
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Vejo-me refletida na íris amarelo-opaca, exausta do escárnio desta dança alheia cultuada por tantos outros, mas ainda assim, bela, belissimamente completa. Que a fortaleza desta composição escorra com a chuva que está por vir e estilhace-se em gotículas numa sarjeta qualquer. Água torrente, caia e anavalhe minhas pupilas pois as lágrimas já me faltam. Façam lâminas desta dança maldita, dolorosamente perfeita. Se os olhos não me choram, para que me serve a visão? Chuva, lave as poucas cores ainda nítidas das pinturas do passado. Desfoque minhas memórias, desbote-me a ausência deste homem, dissolva sua saliva no vento sul. Enfim, seque seu gozo, seu gosto, seu perfume, sua voz. Cesse suavemente nossa ária.
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(Somos vulneráveis. As condições inexplicáveis que se auto-explicam somente pelo tempo. Aquelas que se tornam desgastadas e por fim diluídas para convivermos juntas - as mesmas que não são compreendidas porque ainda enxergamos com os olhos de ontem.)
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Encerra-se a dança, restauro minha lucidez com os aplausos. Sim, deixem-me apenas entre os aplausos - os mais vigorosos, os perpétuos. São as matizes da minha arte. Os brancos que não se apagam jamais.
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break

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Faz muito tempo que não posto nada.
Isso pode ser bom - quer dizer que tenho meu tempo tão preenchido que não me sobra brechas para o nana-nina-não.
E pode ser ruim também, porque estou atolada de tarefas, compromissos, preocupações e dores-de-cabeça....
SO-COR-ROOOO!!!!!!!!!!

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