30 setembro 2008

mutante

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Gente, eu tenho ficado em dúvida sobre a paternidade do Felipe. Sei que isso não é assunto para brincadeira, mas esses dias ele tem agido estranho. Anda sombrio, com a respiração meio ofegante. Levei uma amostra de sangue para análise de DNA. Tomara que seja só uma mutação genética, porque desse jeito, ele não é a cara do pai nem morto.... ai que trocadilho imbecil...
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A foto menor foi tirada no metrô, na volta da terapia, em pleno horário de pico. Esse mini-darth-vader veio causando da estação Ana Rosa até a Vila Madalena...
Figurinha esse Felipe...
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amor de dois e mais

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uma carta de amor:
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(...) o Tato e a Nina? Ah! esses sim eu os conheço a fundo, esses eu os amo! Fui deitar, mas não conseguia dormir. Ainda aquelas palavras estavam em minha mente e que apesar de terem me tocado, não sabia bem o porquê. De repente me veio o Jorcilei na cabeça, lembrei me dele na cozinha, aí as coisas foram ficando claras: poderia comer a mesma comida do Jou num restaurante, mas não teria o mesmo sabor daquela que o próprio Jou prepara, na cozinha dele, no toque que ele dá, no tempero que ele mesmo colhe do vazinho da sala. O chef do restaurante eu não sei quem é, mas o Jou eu o conheço e o amo também. Isso faz toda a diferença! Caí no sono logo em seguida.

Beijos,

M.

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imagem: Summer Bouquet, de Pablo Picasso
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29 setembro 2008

suspiro de arantes

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pele indiana, Londres nos olhos
receitas de gengibre e cardamomo
fios grisalhos, presos ou soltos, o verbo é nobre
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relata por prazer, por crença, por verdade
rotina de fé, vivência, criação
Galileu e Le Monde
a chegada na fronteira oposta do limite
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trança sete leis sagradas com maestria
domina além disso eu sei - e com voz suave
conta-nos porque aquela não está na ciranda
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faz graça da devoção
faz sons que traz meu avô
faz de conta que você já viu
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e
respira
e
respira
e
nunca
e
único
e
limpo
e
ecoa
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ecoa
*
eco
*
e
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minha homenagem a Arantes, que tive o privilégio de conhecer em dias abençoados
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A natureza às vezes se excede. E reúne, num só homem, uma quantidade de talento capaz de suprir um século inteiro.(...)
A obra científica do poeta Goethe, de José Tadeu Arantes

publicado em Galileu nº 100
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imagem: Colour Study Squares, de Kandinsky
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28 setembro 2008

amor de dois

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- mãe, o que você quer ser quando crescer?
- puxa! que pergunta difícil filho! acho que eu quero ser uma pessoa melhor
- pode escolher outra coisa mãe....
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imagem: Head, de Pablo Picasso
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27 setembro 2008

volta no quarteirão

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vou levar minha mãe para dar uma volta no quarteirão
ela está arrasada
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Paul Newman morreu
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finesse

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Conversa na porta da escola entre pai-de-coleguinha e mãe-nina
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- e aí Nina! já decidiu em que escola você vai colocar o Felipe?
- nossa... que maratona, não? escolhi o arrozal das dores
- é mesmo? eu já ouvi falar nessa escola... não é aquela escola de bicho-grilo?
- engraçado... não tive essa impressão não....
- fica tranqüila.... os pais é que são bicho-grilo
- ah tá.... mas como assim?
- tem jornalista, escritor, músico, arquiteto, terapeuta....
- sei... arquiteto....
- mas a escola parece que é boa, muito boa!
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Esse pai-de-coleguinha usava sapatos brancos.
Médico, dentista, veterinário ou bicheiro?
Com certeza, é bicheiro. Para ter bicho-grilo no vocabulário, esse cidadão só pode ser do reino animal.
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imagem: Untitled, Blocher Lithograph
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26 setembro 2008

dmband

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pessou-as, programaço
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dave matthews band dia 28 jockey SP
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imperdível, mesmo sem LeRoi Moore
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... desapega nina, desapega
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imagem: dmband, foto divulgação
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eu estou ecofriendly, você está ecofriendly?

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Quando eu era criança, para comprar uma cerveja ou um refrigerante, tinha que levar vasilhame para o supermercado. Se tivesse festa, a gente juntava vasilhame das casas dos tios, dos vizinhos, de quem fosse para poder comprar bastante bebida. E todo mundo emprestava, mesmo quem não tivesse sido convidado para a festa. Depois a gente devolvia a garrafa vazia para os donos camaradas. Era uma coisa bem solidária.
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Eu lembro que o balcão dos vasilhames ficava ao lado do guarda-volumes, os dois do lado de fora do supermercado. Era lógico o sistema. A gente chegava carregando as garrafas nas sacolas de feira, deixava as garrafas vazias e guardava as sacolas, também vazias, nos escaninhos do guarda-volumes. Não se entrava no supermercado com sacola vazia, para que a luxúria-avareza-gula não se manifestasse durante as compras. Era para o nosso próprio bem. Na hora de embora, levava tudo cheio: garrafas, sacolas, mãos e moral.
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Hoje o ritual é outro.
Primeiro que sacola de feira é fashion. Chama ecobag. É feita de fibra de semente de carnaúba do noroeste do amazonas, do lado brasileiro para bem dizer. Próximo lá da tribo xexêba. A fibra não vem da cultura extrativista. Ela é derivada do bagaço do cocô da vaca leiteira. Tudo tão bem lavado, que nem cheira mal.
O segundo ponto é que hoje a gente coloca os vasilhames nos conteiners, ou recipientes, ou caixotes pintados com cores primárias e com desenho de flechinhas, tipo um Orobouros, só que triangular. Tudo para ser reciclado. E outra, vasilhame é palavra antiga – agora é ecopet.
O terceiro quesito diz que é correto a gente entrar nos supermercados com as tais sacolas vazias. Quanto mais ecobags, mais consciente você é. Na sua carteirinha de vida vão ter várias estrelinhas do titio Deus dizendo que deixou um mundo melhor para as nossas crianças.
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Dito isso, eu estava na fila do caixa do pão-de-açúcar da panamericana. Na minha frente, estava o casal cidadania exemplar. Cada um carregava três ecobags. Sério gente, três! Uma em cada ombro e a terceira na mão direita. Os dedos estavam gangrenando, mas o reconhecimento valida o esforço. Quase pedi para tirar uma foto com eles.

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A moça foi passando as compras e o moço foi tirando a embalagem daquilo que já tinha sido registrado. Tchau caixa de sucrilhos, tchau plástico que envolve 6 latas de coca zero, tchau caixa de tampax... péra aí... o cara tá abrindo caixa de tampax??
Tem dó, né pessoal! Ainda bem que a moça falou “não môôrrr, é melhor levar esse na caixa mesmo”.
A moça parecia mais sensata. As ecobags dela eram bem discretas, bem costuradas por sinal. Não tinha marca, só estava escrito Raia de Goeye. É raio de sol em espanhol. Gente chique. Agora os do moço, tinha umas âncoras, uns pontos de crochê desenhados, cor de bandeira dos EUA, gosto duvidoso. No meio, dava para ler Yatchsman. Deve ser ecobag em inglês, né?
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Tchau embalagem disso e daquilo e foi me dando uma ziquezira animal. Nas compras do casaleco, digo eco-casal, tinham sete latas de batata pringles, suco canadense de romã e uva, pipoca de microondas igual de cinema, confeitos de amêndoas portuguesas, quatro tabletes do lindor milk, marzipan alemão, dois pacotes de café spress....
Putz, tudo o que eu a-do-ro, mas que não dá coragem de comprar porque eu prefiro comer todos os dias até o próximo salário.
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Nada de coisa básica gente. Nada. Não tinha uma frutinha sequer (nem das secas), um repolhinho, um nabinho, um alpistezinho, um leitinho, um peixinho... Essas coisas podem sujar as ecobags e deixam elas fedidas. Aí tem que jogar fora e comprar outro. Definitivamente, isso é anti-ecológico.
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Chegou a minha vez e vou encaixotando as compras. Não uso os saquinhos - não sou tão poluidora assim - sou adepta das caixas de papelão que ficam dando sopa. Na real, coisas encaixotadas são mais práticas para tirar do carro.
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- desculpa, você pode me dar uma licencinha?
Era o moço do eco-casal-camelo que voltou carregando tudo com os dedos gangrenados.
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- pois não, respondi educadamente
- é rapidinho, viu...?
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Eu achava que ele tinha esquecido de carimbar o papel do estacionamento. Engano meu. Ele apoiou a sacola brega dele em cima das minhas compras e cochichou no ouvido da mulher do caixa. Ela deu um punhado de saquinho de embalagens, aqueles que a gente empacota as compras do supermercado, aqueles que quem leva ecobag é justamente para não usar.... sabe?? Ele pegou com os dedos gangrenados, enfiou na ecobag e foi embora.
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- é que acabou os saquinhos de lixo da casa dele disse a mulher do caixa.
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imagem 1: Cow, de Andy Warhol
imagem 2: Play with your Food, de Elffers & Freyma
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25 setembro 2008

cogito, ergo sum

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Foi num desses genéricos de Super Nanny – aquele programa que doutrina crianças normais com pais bananas – que escutei uma coisa dessas:
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- vai ficar de castigo! vai pensar, vai!
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Entendi mal ou pensar virou sinônimo de castigo? Senhoras e senhores, pensar é coisa ruim. Pensar é punição. Talvez para Descartes, Nietzsche, Freud, Sartre, Pessoa, Machado realmente seja. Não é o caso aqui. Estamos falando de cotocos de gente, crianças normais de 4, 5, 6 anos.
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Juro que eu era uma pessoa mais tolerante, complacência era meu nome. A idade avança, a gente fica mais crítico (ou chato, como queiram) e de repente percebe que idiotice generalizada dá uma dor de barriga do escambau. Dá um desânimo ver que a gente se esforça tanto para ensinar coisas decentes – e uma simples fala na televisão te joga de volta para o mundo da realidade.
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Outro dia, li a sinopse de um filme infantil. Uma professora de matemática deixa a vida no interior para ir atrás do sonho: ter uma vida de atriz. Sucesso artístico não no mundo das artes, e sim no mundeco eu-apareço-na-televisão. Triste, muito triste. Fica ainda mais catastrófico quando a “dona” do filme influenciou e ainda influencia manadas de crianças. É a nossa geração pensante vindo aí pessoal!
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Buenas, do filme eu ainda escapo, mas das leis não tem como fugir. Uma lei maluca determina que as crianças do pré-primário façam parte do ensino fundamental. Aí, os mandachuvas percebem a cagada que fizeram e vão repertir de ano os aluninhos de três anos. Tem pais chiando, escolas se descabelando e crianças sendo colocadas de castigo – para pensar, of course.
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Difícil, meus caros, difícil... Ainda mais que daqui a algum tempo eu estarei escrevendo errado. A reforma ortográfica vai foder (no sentido literal) quem escreve certo, porque quem escreve errado vai continuar escrevendo errado.
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A gente rema, rema, rema. Sempre contra a maré.
Só espero não morrer na praia.
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A man who does not think for himself does not think at all.
Oscar Wilde

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imagem: Hey you, de Roy Lichtenstein
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lei da gravidade

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caiu tudo minha gente
caiu internet, tv a cabo, bolsa de valores, azeite no chão, brinco na privada....
que dia, meu deus... que dia...
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Parêntesis
Mario Quintana
'*

(Em meio ao turbilhão do mundo
O Poeta reza sem fé)
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imagem: Concealed Spiral Binding, de Keith Haring
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24 setembro 2008

shower

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Antes do banho
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- Fê, deixa a espada do lado de fora.... os cavalheiros jedis não tomam banho de espada
- ah mãe.... mas eu preciso mesmo tomar banho?
- claro que sim né Felipe!
- quem eu vou ser quando for tomar banho?
- qualquer um.... usa a imaginação
- mas parece que todo mundo é meio fedido no filme
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Durante o banho
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- esfrega o sabonete aí Felipe! Pega o shampoo!
- péra mãe!
- vai Fê.... cê parece uma estátua!.... esqueceu como toma banho?
- é que eu sou o Han Solo
- e o Han Solo não sabe tomar banho?
- sei lá.... não posso me mexer
- por que não?
- eu fui congelado
- água descongela, sabia? Ainda mais água quente
- mas na minha imaginação, o chuveiro é o congelímetro
- tá... e daí?...
- eu só posso descongelar quando desligar o chuveiro
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Depois do banho
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- mãe, você tem poderes, sabia?
- ah é?? Eu sou jedi??
- é sim...
- e qual é o meu poder??
- vir me ajudar a colocar o pijama enquanto arruma o banheiro.
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imagem: Lemon Pig, de Elffers & Freyma
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22 setembro 2008

candomblé

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- é uma sessão de despacho?
- não.... é o Felipe fazendo playback da música dos ewoks....
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efeito borboleta

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ô Nina, dá um jeito nessa crise dos Estados Unidos.... eu não agüento mais o chato do seu pai, reclamando disso e daquilo.... Manda o MacCain ganhar logo essa eleição...
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Desabafo da minha mãe sobre o humor do marido que não tira os olhos do canal Bloomberg.

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imagem: Statue of Liberty, de Andy Warhol
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21 setembro 2008

churros no sofá

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Até hoje, nas minhas idas ao supermercado, ao sacolão, à padaria eu coloco no meio das compras alguma coisa que ele gostava. Na hora de pagar, eu tiro, deixo no canto do caixa, disfarçando, fingindo que mudei de idéia.
Na verdade, quem gostava daquilo que eu tinha colocado no meio das coisas era o João, não eu. Eu gostava mesmo era de comprar para ele. De chegar em casa e dizer "olha o que eu trouxe para você". Eu gostava era disso.
Ele também curtia fazer isso para mim. Chegava tarde da faculdade, mais de onze horas, tirava o capacete, dava um beijo, soltava a mochila das costas, abria o zíper e me entregava a sacola de plástico com uma bandejinha melecada por dois churros meio amassados. Um para mim e outro para ele. Essa hora, o Felipe já dormia e a gente comia sentados no sofá, cada um com o seu churro, de frente ao Jô onze e meia. A gente gostava era disso.
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imagem: Café de Nuit, de Van Gogh
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20 setembro 2008

semana de todos os dias

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2ª feira
Treinamento intensivo para aspirantes a jedi masters na sala da minha casa. Inscrições aqui.
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3ª feira
Guido esguicha xixi em cima dos remédios do veterinário. Não são gotículas, é um jato com uma vazão considerável mesmo.
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4ª feira
Durante a meditação matinal, sinto um vulto na minha frente. Abro os olhos e aparece o Felipe em pé, concentrado, com os braços esticados na minha direção: eu tô te mandando mais energia, viu mãe...
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5ª feira
Felipe aluga a saga inteira do Star Wars. Negocia com o moço da locadora para devolver em uma semana. Pega também o ET (aquele do Spielberg), achando que é a história da vida do Yoda.
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6ª feira
No escritório, fico sabendo que tenho 2 horas e 25 minutos para preparar do nada um estudo para uma reunião com o cliente.
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sábado
Quando finalmente posso acordar um pouco mais tarde, recebo 3 ligações (Itaú, Unibanco e Hipercard) oferecendo cartões de crédito. Sou mal educada nas três.
Felipe quer comer bolinho de chuva e encontro uma mariposa morta dentro do pacote novo de farinha. Ele come é pipoca.
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domingo
Futeba na garagem, babação de Guido, roupas secas, cineminha quem sabe, batalha de ewoks, fantasias de Ben10, pijama até meio-dia, volta no quarteirão, água no carro, fim-de-semana curto demais, incenso queimado, sol de villa-lobos, fnac sob chuva, lâmpada trocada, jantar filado na casa de alguém.
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Todos os dias da semana – do jeito que devem ser.
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imagem: Frühstücks-Ei, de Sabine Gerke
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19 setembro 2008

chi vivrà, vedrà

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(...) Começamos a morrer no exato instante em que começamos a viver. E hoje estamos mais mortos do que estávamos ontem. (...)
Pela Lei, se perdemos um parente direto, temos direito a nos ausentar por três dias do trabalho. Quem casa, tem cinco. Quando nasce um filho, a mãe tem licença de 120 dias. Como se chegou à conclusão de que três dias de luto é suficiente? Por que dois é pouco e quatro é demais? Seria o primeiro dia para enterrar o morto, o segundo para limpar os armários e o terceiro para chorar? E depois, a vida continua? (...)

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trecho de reportagem da revista Época, edição n° 535, página 59
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foto: atelier de cerâmica Suenaga & Jardineiro Cunha, julho 2008
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18 setembro 2008

fê-darth-zumbi

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O Fê adora (a-do-ra!!!) jogar no computador. Às vezes ele diz que me ama mais do que jogar no computador. Eu me derreto porque eu sei que é sincero.
Como toda mãe aplicada, ele tem os dias certos que pode jogar - seja em casa, na casa do amigo, no game do homem aranha, na festa no buffet ou cortando cabelo no Piazzito. Está tudo marcado no calendário da cozinha.
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O pacote de veneração da vez é o jogo do Star Wars da Lego.... e ontem não era dia de jogar. Depois do jantar começou a negociação.
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- mãe, posso trocar o dia de jogar?
- não Fê
- só hoje mãe!
- não
- então você brinca comigo de Istar Lóquers?
- brinco sim.... quem você é?
- eu sou o Luque Istar Lóquer e o carinha de arma
- o Han Solo?
- é esse mesmo
- mas pode escolher dois?
- pode sim... você pode ser a Lênia e o Jaba
- legal você hein....
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Antes de dormir, ele deu de imitar o Darth Vader. Morri de rir - aquilo para mim era o som do Chewbacca. Na verdade, parecia mesmo um bezerro.
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- mãe, sabia que eu consigo respirar assim de dia?
- é mesmo? parece que você tá com asma...
- eu vou respirar assim até meia-noite.... aí até acordar eu não respiro mais, tá?
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17 setembro 2008

nina june



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YOU OBVIOUSLY
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KNOW WHAT I’M
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TALKING ABOUT.
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eu sei que o trocadilho do post de hoje é idiota.... eu sei também que o lançamento já foi faz tempo, que o assunto já rodou mesa de bar, que tem gente que até guardou na estante.... mas é que eu gostei tanto que eu queria indicar.... do you understand me?
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Recomendo a leitura e a visita no site da Miranda July. Sem medo.
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E CLARO QUE VOCE SABE DO QUE ESTOU FALANDO
autor: Miranda July
tradução: Celina Portocarrero
editora: Agir
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16 setembro 2008

the force shall free me

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Filhote de 5 anos descobriu o universo de Star Wars, ou melhor, Istar Lóquers no vocabulário felipês.
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Luke Skywalker é Luque Istar Lóquer
Princesa Leia é Princesa Lênia (sem o “Se” da Selênia de Arthur e os Minimoys)
Han Solo é Han Solo
Chewbacca é Xúbaca
C-3PO é CêPêÓ
R2-D2 é Dê-dois-Dê-dois
Obi-Wan Kenobi é Ian Quemóbi
Darth Vader é Dai Veinden
Yoda é Yoga
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Na volta da terapia, passou com a tia na locadora e trouxe o episódio IV, A New Hope. A euforia desse moleque para ver o filme era impressionante... e a minha astúcia em responder as perguntas filosóficas dele era.... digamos,... pífia...
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- O nome é Guerra nas Estrelas por que tem guerra de estrelas?
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- Mãe, porque o Dê-dois-Dê-dois não fala e o CêPêÓ fala?.... Se o Dê-dois-Dê-dois é mais inteligente, ele devia falar, não é?
- Os dois não são robôs? Eles não deviam ser iguais e diferentes?
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- Por que todo mundo foge do Ian Quemóbi? É por causa do poder dele? As pessoas ficam com medo de quem tem poder? Mesmo quando o poder é do bem?
- As pessoas não fogem do Dai Veinden, né mãe? Ele tem o poder do mal, mas ninguém foge dele. Fica todo mundo parado.
- Eu não quero que as pessoas fujam de mim. Eu acho que vou querer ter o poder do mal.
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- Mãe, o Dai Veinden é o chefão dos caras de espada?
- Por que o Dai Veinden quer destruir a princesa Lênia se ele é o pai dela?
- Por que o Luque Istar Lóquer é irmão da princesa Lênia se ele nem conhece ela no começo do filme?
- Por que a princesa Lênia deu um beijo no Luque Istar Lóquer? .... eu odeio isso....
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- O carinha de arma não tem espada por quê?
- Eu tenho muitas espadas, mas eu não sou cavalheiro jedi..... eu sou, mãe??
- Mãe, você me leva na casa do Ian Quemóbi? Ele vai me treinar.
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- Quando faz esse barulho quer dizer que o Ian Quemóbi vai chegar? Por que ele não tá chegando? Ele podia chegar aqui em casa, né mãe?
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- Por que os búfalos são daqueles caras? Os búfalos moram no deserto junto com as girafas e as crianças marrons?
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- Que tipo de tiro é aquele? É de grito supersônico que não faz barulho?
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- Por que o Jaba não fala português?
- Por que o Jaba entende quando o Han Solo fala em português?
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- Por que o Yoga não aparece? Se o Ian Quemóbi desapareceu quer dizer que ele tá com o Yoga?
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- Vou ter que voltar toda essa parte porque não deu para escutar nada. Você fica fazendo esse barulho aí na cozinha... fica lavando essa louça muito alto....
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Ele disse isso logo depois do duelo do Obi-Wan Kenobi com o Darth Vader.... é mole ou não é??
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15 setembro 2008

máscara

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o sagrado estava lá, ao meu lado, só que na mente de outra pessoa
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eu vi, eu vi seus olhos, a caverna de seus olhos
acenei, leve, com meu lenço branco, com os dedos arqueados, com punhos pulsando, eu acenei
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você piscou e não me viu
não porque não deveria, apenas não me viu
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não sou eu, estou aqui
eu sou eu, não estou aqui
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você, feito ser divino, piscou
e eu, com os olhos dormentes,
lembrei-me que seres divinos não piscam
*
o sagrado estava lá, ao meu lado, só que nas mãos de outra pessoa
*
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imagem: Head with a Mask, 1956 /Pablo Picasso
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12 setembro 2008

saindo do prumo

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à partir desta noite vou estar reclusa em uma iniciação espiritual
estou me propondo mudanças
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quero ver se o obscuro é divino
quero ver se o sagrado é distante
quero tocar o fundo dos meus olhos e testemunhar até onde eles alcançam

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sei a responsabilidade dos atos
sei que nada é mágica
sei que tudo é esforço

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que no domingo eu esteja alterada, deslocada dessa inércia, deste vício, desta rotina

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imagem: Rain at Auvers, de Van Gogh, 1890
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colagem

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**
Poucas pessoas manipulam com tanta qualidade a (des)ordem das palavras. O Tato é uma delas. Eu já disse que ele deveria montar um blog com as criações dele. Teimoso que só, insiste em responder não, não e não. Querido, a manÉ tem a sabedoria: tudo não passa de mera masturbação narcisóide-coletivacóide-infantilóide-corticóide.
*
Tato, com toda a honra, poder e glória, este blog pé-de-boi abre espaço para seus insights. Mi casa es tu casa.
Leitores, as palavras são dos mestres, a colagem é do Tato e os bytes são do nana-nina-não. Buen apetito.
*
*

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CONFORTO NAS TREVAS
*
(Colagem – Otto Maria Carpeaux. J. R. R. Tolkien. William Golding.)
*

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*
Eu, que experimentava todas as desgraças,
compreendo melhor — não existe consolo nos Círculos do Mundo.
*
Aceitar a realidade,
sem conformismo e sem evasões.
*
Invisível escuridão.

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imagem: Young Man Nude Facing the Sea, de Hippolyte Flandrin, 1809-1864
*
*

laying

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(...) A meio da noite peço-te que me deixes ficar contigo um mês – "só um mês, prometo. Posso?" Não me respondes, claro. A não ser que os beijos sejam uma resposta, e eu preciso de acreditar que sim. Preciso dessa vida verdaderia que escondi debaixo da tua pele, antes que o cabelo me caia, antes que comecem os enjôos e as dores, antes que o meu corpo seja tomado pelo cheiro miserável da doença. Talvez para morrer eu precise do amor e da família. Mas para acabar de viver, só preciso de ti, desta febre azul a que os outros chamam só sexo.
*
Trecho arrasador do conto Só Sexo de Inês Pedrosa.
*
imagem: Laying, de Egon Schiele
*
*

11 setembro 2008

conselho 1

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(...)
Cara Nina, sinta o cu da experiência: os pigmeus são negróides.
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*
essa frase veio fechando um assunto numa troca de e-mails entre amigos
eu considero prá caramba a pessoa que me mandou
acho que vou adotar como um mantra pessoal
*
imagem: Hieroglyphical Alphabet, Louvre - Paris
*
*

conselho 2

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*
mensagem recebida de manÉ (mana+Érica)
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*
Fui buscar o Felipe na escola.
*
eu- o q vc fez hoje na escola ?
Fe - nada (mal humorado)
eu - quem foi na escola ?
Fe - ninguém
eu - o Renato foi ?
Fe - não
eu - o Guilherme Silva foi ?
Fe - não
eu - o Felipe foi ?
Fe - não
eu - então, quem eu fui buscar hoje na escola, se o Felipe não foi?
Fe - eu não sou o Felipe (em tom kafkaniano)
eu - quem é vc ?
silêncio
eu - então quem eu peguei na escola ?
Fe - o meu irmão
eu - mas, então, quem é vc ?
Fe - um robô (e começa a falar como um robô)
*
Recomendação psicopedagógica: pelo amor de Deus, selecionem direito a programação da TV. Isso é sério. Nada de Power Ranger, nada de Robotboy, nada de Will Smith, nada de Ben 10, nada de O Processo, nem de A Metamorfose, por favor.....
*
*
imagem: Rescue, de Greg Brown
*
*

conselho 3

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Solicito a voces, não comprarem produtos que tem fragrância meio doce para Yen. De preferência dê uma cueca marca Mash (?) tamanho média de qualquer cor. Eu, inclusive, sinto mal, com fragrância meio doce..... inclusive sinto mal quando tem flor viva dentro de casa, como crisântemo.
*
pedido recebido por e-mail da minha tia de taubatexas
*
imagem: Bottles II, de Sommer
*
*

10 setembro 2008

seqüência

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eu sempre fui primeiro, depois dela é claro
*
dessa vez, ela foi primeiro, depois de mim
*
não interessa a ordem - o que importa é que vale a pena
*
mana Érica inaugurando blog próprio
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*
imagem: La Ronde, de Pablo Picasso
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*

opinião púbica, digo pública

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aquilo que não tem comprovação científica pode ser opinião minha - como pode ser opinião pública
*
fealings my dear, fealings
alguns assuntos são lendas urbanas - e eu os tomo como verdade - até que me provem o contrário
*
não, não - não é necessária a amostra in loco
basta-me uma imagem desfocada de outro
eu me convenço facinho, facinho
*
*
imagem: Inflatable Doll, de Niki de St. Phalle
*
*

07 setembro 2008

get-a-mac

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Tão difícil quanto escolher a escola do Fê, foi a decisão de me familiarizar com um mac. O meu pecezinho é quase uma extensão do meu corpo – ele faz tudo o que eu mando. Faz meio torto, mas faz. De tão fiel e careta que ele é eu acabei por traí-lo na caruda.
I've got-a-mac...
*
Convenhamos: um mac, qualquer que seja o modelo, é um mac. E como um mac é um mac, agora eu tenho que me virar nos trinta para poder pagar as 49 parcelas desse meu mac novinho...
*
Eu, cheia de mimos com meu primeiro mac, morrendo de dó de instalar programas nefastos nessa ultra maquininha semi-virgem, me vem o Felipe quebrar o deslumbramento. Eu coloquei o jogo dos Incríveis para ele. Depois de 20 minutos jogando, ele solta uma num tom blasé:
*
- É.... até que esse computador é bom.
*
Até que esse computador é bom?? Tu tens amor à vida??
Você tem idéia de quanto eu paguei, ou melhor, eu vou pagar em 49 prestações por ele?? Hein?? Olha esse design, esse cabo de força, essa embalagem, esse adesivo de maçãzinha!!! Seres celestiais, eu estou ferrada - proteja-me desta alma exigente... esse menino tem só 5 anos!
*
*
imagem: primeiro símbolo da Apple... quem diria, desenhado por Steve Jobs e Robert Wayne
*
*

06 setembro 2008

sem preço

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Eu tenho um orgulho danado dos meus amigos.
Um amigo meu comprou um apartamento – vai morar sozinho. Outro escreveu um livro. É o primeiro de uma trilogia. Tenho amigo que é professor de universidade federal. Tenho amigo que é artista de novela. Tenho amigo cineasta e amiga cientista. Tenho amigo monge e amigo surfista. Tenho amigo que é executivo-empresário-chiquetê. Tenho amiga que é superwoman-mother-workaholic-lover. Tenho amigo com mais de 1.000 amigos no orkut. Eu tenho amigo da onça, amiga piranha, amiga virgem. Eu tenho amigo que já é vovô e ainda joga beisebol. Tenho amigo que não faz porra nenhuma e amiga que faz tudo errado. Tenho amiga que já perdeu a fé em muita coisa, menos nela mesma. Tenho amigo que decepciona. Tenho amiga com bafo de bunda e amigo viciado. Tenho amigo que fez voto de castidade e amiga que tem iate. Tenho amigo que eu queria que fosse um caso, não amigo. Tem amiga que me faz morrer de inveja.
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Não tenho amigo político e nem com anseio de se candidatar. Isso não tem preço.
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imagem: Untitled #3, 1988 / Keith Haring
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05 setembro 2008

yes, nós temos bananas

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conversa de duas mulheres no corredor 'F' da Bienal do Livro em SP, agosto passado:
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- isso aqui tá cheio demais...
- não dá nem pra andar né
- eu hein... porque tem tanta gente assim?
- sei lá
- eu gosto de ler de vez em quando, mas eu não compro livro não
- eu também não
- imagina se eu vou gastar dinheiro com livro
- prá que comprar essas coisas...
- esse pessoal compra livro, lê e depois acabou
- depois que leu, faz o que com o livro né?
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putaqueopariu – eu escutei isso, nesses termos, sem exagero.
dói os orvido da gente, dói n'alma...
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imagem: Banana Samba, Greg Brown
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04 setembro 2008

orgulho

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reparem na lição de casa do Fê....
recorte e cole palavras começadas com D d
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zoom no David Lynch....
a figurinha existe e é meu filhote... esse moleque é o máximo
orgulho meu

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03 setembro 2008

universo infinito



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felipês

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diálogo durante a sessão de Wall-e, ótima animação da Pixar:

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- mãe, o que ele tá falando?
- não sei filho... eu não entendi
- você não fala robonês?
- não falo não...
(...)
- mãe, sabe a escola nova que eu vou?
- sei sim... o que tem?
- lá eles ensinam robonês?
- ih... eu acho que não filho
- então eu vou ter que aprender sozinho mesmo...

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02 setembro 2008

encontro marcado

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eu vou, eu vou - pro lançamento eu vou
parará-tchim-bum, parará-tchim-bum
eu vou, eu vou

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01 setembro 2008

para que outras sejam

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O Poeta
Vinicius de Moraes
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Olhos que recolhem
Só tristeza e adeus
Para que outros olhem
Com amor os seus.
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Mãos que só despejam
Silêncios e dúvidas
Para que outras sejam
Das suas, viúvas.
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Lábios que desdenham
Coisas imortais
Para que outros tenham
Seu beijo demais.
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Palavras que dizem
Sempre em juramento
Para que precisem
Dele, eternamente.
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imagem: Blue Nude I,II,III,IV Henri Matisse
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