17 novembro 2008

amor de dois

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Não nascemos da mesma mãe, não nascemos do mesmo pai, nascemos do mesmo livro. Deus devia estar lendo a mesma página quando nos imaginou.
Você é a página da esquerda e eu sou da direita. Você me antecede. Só faço sentido depois de sua leitura.
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Carta para Mana Amada, de Fabrício Carpinejar
blog Fim da Linha
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O início da carta do Carpinejar é lindo. O final também – e triste. Para minha irmã Érica, que fez anos dia 15, fico somente com esses dois parágrafos.
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imagem: A Thousand and One Nights, 3 parts - de Henri Matisse

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sucesso

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gosto muito dele como professor
gosto muito dele como amigo
gosto muito dele como escritor
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Desconforto sendo lançado hoje na Livraria da Vila
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sucesso, Fernando

eu te vejo lá
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13 novembro 2008

rain rain rain

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Chorei feito uma porca na sala da médica. Dentro do carro. No banheiro da cafeteria.

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O que você sente quando fala da morte do seu marido?

Que pergunta mais idiota, meu deus, que coisa mais idiota. Olhe para mim, nos meus olhos, e faça a pergunta de novo. Por favor.
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12 novembro 2008

vai levando

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mesmo com toda a fama, com toda a brahma
com toda a cama, com toda a lama
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa chama
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mesmo com todo o emblema, todo o problema
todo o sistema, todo Ipanema
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa gema
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mesmo com o nada feito, com a sala escura
com um nó no peito, com a cara dura
não tem mais jeito
a gente não tem cura
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mesmo com o todavia, com todo dia
com todo ia, todo não ia
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa guia
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mesmo com todo rock, com todo pop
com todo estoque, com todo Ibope
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando esse toque
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mesmo com toda sanha, toda façanha
toda picanha, toda campanha
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa manha
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mesmo com toda estima, com toda esgrima
com todo clima, com tudo em cima
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa rima
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mesmo com toda cédula, com toda célula
com toda súmula, com toda sílaba
a gente vai levando, a gente vai tocando
a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula
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música: Chico Buarque e Caetano Veloso
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imagem: primavera em casa

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11 novembro 2008

nothing to think

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Resolvi ir ao supermercado andando. Meu lado madame cruela chicoteando as costas. Anda escrava, justo hoje que é o rodízio do carro, a nêga compra 5 quilos de arroz e volta carregando na cabeça. Sofre mula. Eu não pago penitência fazendo flexões. Eu pago minha burrice carregando sacolas de supermercado. E com garoa no rosto.
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O farol, graças a Deus, estava vermelho para os pedestres. Daria para colocar as sacolas no chão e descansar os braços. Olhei para a lâmina d’água cinza chumbo na guia e preferi agüentar o peso por só mais alguns (intermináveis) quarteirões. Ô catzo de farol que não muda nunca.
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Enquanto atravessava a avenida pensei seriamente em comprar uma bicicleta. Muito mais prático. Penduraria as sacolas no guidão, igual lá no nordeste, e sairia pedalando na boa. Simples assim. Tão simples quanto o japa que foi no churrasco do Caco de bicicleta. Lá na Av. do Sol, uns 75 km desse chão aqui. A mulher e os dois filhos foram na garupa. Impressionante.
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Tenho inveja desse povo esportista. O japa da bike causou frenesi quando entrou na piscina. Delícia de festa quando tem piscina, não? O sol ajudou. Era a festa de 4 anos do Caco, com rango da hora e muito, muito japa.
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No meio do churras, um mini japa chorava porque tinha se perdido do pai. Como é o nome do seu pai? O menino olhava para mim e voltava a soluçar. Ele se recusou a me ajudar. Daí, eu pensei no óbvio: todos os homens japoneses se chamam Eduardo, Jorge ou Paulo. Eu teria 30% de chance de acertar em cada tentativa. Os outros 10% de japoneses se dividem em Mário ou Edson. Isso é regra. Não existe japa chamado Acácio, Silvio, Bruno ou Frederico.
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Pronto. Cheguei no portão branco da minha casa. Com caraminholas na mente, o caminho encurta e as sacolas molhadas ficam mais leves.
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imagem: japanese road sign, wikipedia
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10 novembro 2008

superlativo

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As coisas em casa perderam o cheiro. A vida está uma inércia.
Rewind, rewind, rewind. Next, next, next. Tudo muito chato, besta e desbotado.
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Uma das poucas coisas que ainda gosto de fazer é sentar ao redor de uma mesa de jantar e passar o tempo com meus amigos. Na roda de conversa surge sempre um assunto do nada que pega fogo, tipo combustão espontânea. Dá pano pra manga. No ápice da discussão, aparece aquela fala: põe isso no blog!
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Colocar no blog virou uma expressão. Significa que algo engraçado ou inusitado ou idiota ou trash aconteceu com você; ou que você presenciou uma cena com essas características. O põe no blog enfatiza os adjetivos. É o superlativo de uma opinião. O atestado para o trash ficar mais trash, o engraçado ficar mega engraçado.
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Ontem o Fê estava assistindo Padrinhos Mágicos na sala e eu preparava o strogonoff na cozinha. Ele começou a rir sozinho. Perguntei o que tinha acontecido. Ele veio gesticulando até a geladeira, imitando o Timmy Turner, encenando caras e bocas. Falava de um jeito escrachado. Demorou uns minutos para ele conseguir explicar o porque da risada. E depois da explanação eufórica, finalizou:
- ai mãe, foi muito irado... essa eu vou colocar no blog!
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Ainda bem que esse menino é a brisa da casa.
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imagem: Timmy from The Fairly Oddparents, ilustração de jimworthy
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04 novembro 2008

time after time

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em época de cindy lauper, tem camarada em buenos aires reclamando que não tem postagem nova por aqui
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continue reclamando, porque o tempo aqui é curto e as obrigações são tão maiores que a vontade alheia, inclusive a minha
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e o blog, meu chapa, o blog é só ficção
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imagem: Clockface, de Boulle
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