30 agosto 2008

maquetes

*

*
Poucas coisas manufaturadas (digo handmade) reproduzem com tanta precisão a realidade de um universo. Maquetes são uma dessas coisas. Eu sou fascinada por maquetes, especialmente as de arquitetura. Falo das físicas, não das eletrônicas. Podem ser conceituais, detalhadas, faraônicas, de massinha, fantasiosas, de siporex, volumétricas, de sabão de côco, setoriais, topográficas, de madeira balsa, de isopor, coloridas, de acrílico, monocromáticas, de chapa metálica, texturizadas, com coberturas que abrem, de papel duplex, triplex, o que for. Eu adoro maquetes. E também gosto de arquitetura – faz parte do pacote.
*
No Instituto Tomie Ohtake alguns trabalhos do escritório de arquitetura japonês SANAA: Kazuyo Sejima + Eyue Nishizawa estão expostos para visitação. Em bom português, são do caralho.
*
No piso do saguão principal, está a maquete do Rolex Learning Center Escola Politécnica Federal em Lausanne, Suíça (fotos). O tamanho impressiona. A escala é pequena e monumental ao mesmo tempo. Quem trabalha com isso, sabe o que estou dizendo.
*
A exposição fica até 28 de setembro. Ótimo passeio e é de graça.
Quem for com crianças, tem que levar coleira. Os seguranças têm pavor de criança solta e sorvete pingando.
*
*
*

29 agosto 2008

amor de dois

*
*
- eu não imaginava que seria tão complicado escolher a escola do Fê
- já foi em todas?
- já mãe.... e é tudo tão caro...
- já escolheu alguma?
- ainda não... eu gostei daquela, mas juntando tudo, dá quase o dobro que eu gasto na escolinha de hoje... não sei se consigo bancar
(silêncio)
- é tão difícil ter que decidir tudo sozinha mãe
- pensa no que é melhor pro Felipe
- é por isso que é difícil... eu queria colocar o Fê lá, mas será que eu consigo?
- a gente dá um jeito filha, a gente dá um jeito

*
imagem: Poppy Field, Gustav Klimt
*
*

*

28 agosto 2008

hoje

*

hoje é só isso
porque é importante demais ser apenas isso
*
*
imagem: Sleeping Woman, Pablo Picasso
*
*

27 agosto 2008

olimpíadas

*

A Érica é minha irmã mais velha. É minha referência. Tudo o que escolho, decido, compro e cago, eu conto para a Érica. Eu preciso ter o aval dela.
Ela é inteligente pacas – morria de inveja quando chegava a época dos boletins da escola. Eu ficava de recuperação enquanto ela podia curtir as férias. Para ela, nota vermelha é quando cai catchup no troco do hotdog.
A gente cresceu e ela continua inteligente. Eu melhorei um pouco, mas ainda não tenho a bagagem cultural que ela tem. Ela é atualizada em tudo - cinema, gastronomia, filosofia, arte barroca, Jimmy Choo, Stars Wars, Cordon Bleu, fenômenos naturais e sobrenaturais, física quântica, movimento GLS-XYZ, teoria de Darwin, teoria sem Darwin, literatura inglesa, hotéis excêntricos, fashion weeks e open houses. Até para a África ela já foi.
Pois bem, a vida ensinou que não existe nada que seja absoluto. Todos temos um lado B – inclusive a Érica.
1º: ela é minha irmã.
2º: de vez em quando ela é meio anta.
*

Conversa durante a final olímpica de vôlei masculino Brasil x Estados Unidos:
*
- ô Nina, isso aqui tá uma palhaçada! Eles tão marcando errado os pontos!
- Como assim?
- Olha só o marcador! Ninguém vai reclamar?
- Reclamar o que Érica?
- Tão roubando meu! Tão roubando!
- Mas tá certo É... O que tem de errado?
- Putaquepariu, que juíz de merda! Os pontos tão errados!
- Errados onde?
- O Giba errou o saque e deram o ponto pros carecas.
- Ué, não tá certo?
- Claro que não né! Quando erra saque é vantagem pro outro. Aí, se eles acertam o lance, aí sim é ponto deles. Já roubaram dois pontos nossos!
*
Putz, ela não sabe as regras novas do vôlei.... e nem são tão novas assim... será que eu aviso?
*
- Queimou, queimou, olha só!
- Que foi?
- O saque queimou! A rede tá balançando na cara do juiz e ele finge que não vê!
- Que horror né...
*
(...)
*
- Nossa Ni! Tá por esse! Vai Dante, faz um ace!
- Mas já tá acabando o set?
- É Nina! Tá por esse! Só falta um pontinho prá fechar o set. Vai Dante!
Eu até me levantei do sofá para ver de perto o marcador no cantinho da televisão: 14 x 12 pro Brasil. Ela estava pronta para ir ao banheiro na hora do intervalo, depois do set de 15 pontos.
- Ué, não vão trocar de quadra?
*
*
Gente, ela me fez jurar que eu não contaria essa do vôlei para o marido dela. Ela tem medo que ele peça divórcio. Já basta eu de viúva na família – não precisamos de outra história de solidão. Sou pessoa de palavra, amo minha irmã, nunca faria uma coisa dessas.
*

*

26 agosto 2008

ano + ano

*
(...)
O João morreu dia 26/08/06. O Alexandre morreu dia 29/08/07 (certo?). O João se foi por causa de um aneurisma cerebral. O Alexandre, foi por parada cardíaca. Sim, foi de um dia para o outro. Sim, era jovem, saudável, normal e divertido. Sim, não usava cocaína e nunca correu a São Silvestre. Sim, estava fazendo planos e passava por um momento feliz na vida. Sim, teríamos um outro filho. Sim, tínhamos uma viagem marcada na semana seguinte da morte. Sim Nina, você é muito forte. Talvez Nina, não seja nem forte, nem companheira da fraqueza, não fique cega, nem destrambelhe, não faça nada. Solte, sim, solte. Soltar o que? Sim, foi foda, muito foda. Sim, a vida deve continuar, bola pra frente, sou muito nova, terei outros companheiros, mas como? Já passei da idade, mas vou superar, seu filho é o seu tesouro, vocês tem sorte por terem sido tão amados. O João era correto, deixou tudo pra vcs, tem isso, tem aquilo... e tem um dia longo que tudo é uma bosta. Uma bosta longa e fétida. Sim, amigos e família abrem as janelas para amenizar o intragável e aceitar um dia seguinte.
(...)
Wathever, o que eu queria mesmo te dizer Fal, é que depois de tudo o que eu li no seu blog, depois de tudo o que eu escrevi sobre a dor de perder algo precioso, eu sei que João, Alexandre, Lígia, e tantos outros, têm o mesmo significado. São pessoas que nos aproximam de sentimentos e laços, saudades e porquês, amor-dor-amor-dor-amor. São pessoas que nos chacoalharam para a vida em seus abraços e que agora temos a vida chacoalhada por falta deles. Talvez seja isso que nos torne reais e possíveis. Inteiras ou despedaçadas, mas presente todos os dias.
(...)
*
Faz um tempo, eu escrevi essas palavras (adivinha aonde?) no LV do Drops da Fal.
Hoje, dia 26 de agosto de 2008, tenho motivos para colocá-las aqui no nana-nina-não. Faz dois anos que o João se foi. Faz dois anos que aprendi a duvidar do que é certo ou errado. Faz dois anos que fiquei diante do olho do furacão. Há dois anos estou em terapia. Em dois anos, vi que não existe nada que seja absoluto, que a crença no amanhã só depende de hoje e que ontem já passou. Aprendi que escrever conforta, mas reler o que foi escrito ainda é doloroso e não redentor. Neste tempo, levantei muralhas, passei cadeados e esqueci janelas abertas. Nesse tempo, aprendi a reconhecer a dor e a não temê-la, menos quando ela me paralisa. É um tempo que não se define em palavras, porque é importante demais, é urgente demais, é vida e morte demais. Porque hoje, hoje faz dois anos.
*
*
imagem: Suonando Bach, Man Ray
*
*

24 agosto 2008

uma bienal de 20 anos

*
*
A Fal foi minha amiga de escola. Na 6a série, eu acho, o Fabão sentava na frente dela e eu sentava na frente do Fabão. Eu saí do Gávea na 8a série e algumas pessoas daquele colégio nunca saíram da minha memória. Com todo o orgulho, a Fal é uma delas.
Fui na Bienal do Livro no sábado sabendo que iria encontrá-la no estande da Rocco divulgando seu terceiro livro. Disso, rendeu a conversa na sequência.
*
*
no Drops da Fal...
.
domingo, agosto 24, 2008
(...)
Que apareceu na Bienal foi a Nina. A mesma cara boa, a mesma beleza, a mesma doçura, a mesma voz! Momento 'forte emoçes', seguido por um momento Hebe, porque eu não conseguia parar de beijar ela. Ô deus.
(...)
E lá se vão vinte anos, senhores. Não, minto: mais de vinte. O engraçado é que eu tou véia. A Nina tá um broto.

*
*

Resposta da Nina no LV do Drops da Fal...
*
Você não tem idéia de como foi bom te ver lá na bienal. Tive orgulho quando você me reconheceu, se levantou e retribuiu a minha expectativa com um abraço generoso, juntando dois tempos tão espaçados no meio daquela multidão do Anhembi. Você viu, eu tive que enxugar umas lágrimas.
*
Fal, agradeço sua elegância em me manter no formol.... mas sejamos realistas, broto é palavra antiga - sou dessa época sim, quando belezura era pão, chuchu e broto. Estou mais azeda, tenho cabelos brancos escondidos em centímetros quadrados, olheiras permanentes, tatuagens descoloridas, já não faço mais as unhas das mãos, quem dirá, as dos pés.
Eu também te vi linda, única, de vermelho, mais vitoriosa que nunca. Sei que você vai dizer que eram meus óculos, mas tanto faz, porque são vinte anos, verdade, mais de vinte anos. Tanto faz, porque daquela bienal eu só lembro do seu abraço, que seu livro estava em destaque numa espiral, que na frente do caixa eu pensei que aquele livro valia muito, mas muito mais do que aquilo que eu estava desembolsando. Eu não sabia o que te dizer, além de parabéns, você merece e ai que saudades. Eu me senti uma tonta, gaguejei, queria te falar tantas coisas, queria te ouvir falando tantas outras e eu sabia que lá era um espaço muito pequeno para vinte anos e que talvez não haja lugar no mundo para esse tempo. Aí eu li aquilo que importa, uma dedicatória sinalizando uma primeira de muitas e segui pelos corredores feliz da vida, pensando nos próximos vinte anos.
*
Eu só queria te dizer obrigada. Estou nas últimas páginas do seu livro – e repito, obrigada.
*
Nina
*
... e sinto uma mistura de alívio e amor quando vejo que Alexandre esperou para ler este livro.
*

*
imagem: Untitled, Rothko
***
Minúsculos Assassinatos e alguns copos de leite
Autor: Fal Azevedo
Editora: Rocco
*
*

mistura

*
... e sinto uma mistura de alívio e amor quando vejo que Alexandre esperou para ler este livro.
*
e,
sinto uma mistura de alívio e amor quando Érica e Jou permitem que eu passe o dia na bienal
e,
sinto uma mistura de alívio e amor quando minha companhia na bienal é o Tato. Não existe ninguém mais gabaritado para tal circunstância
e,
sinto uma mistura de alívio e amor quando sento no chão com Felipe para vermos juntos o livro que trouxe para ele
e,
sinto uma mistura de alívio e amor quando numa mesa quadrada, Chris e Marcos folheiam os livros que comprei e os que deixei de comprar
e,
sinto uma mistura de alívio e amor quando agradeço a cada um de vocês por existirem
e,
sinto uma mistura de alívio e amor
*

*

imagem: Green Tea II, Jokelson

*

*

22 agosto 2008

assunto público

*
declarações
*

- eu te amo mais do que o Ben10
- eu te amo mais do que a tatuagem do Megaman
- eu te amo mais do que pipoca
- eu te amo mais do que as-meninas-super-poderosas-geração-Z
- eu te amo mais do que respirar
.
.

testemunhos
*
- eu ganhei o dia
- eu ganhei a semana
- eu ganhei uma vida
.
imagem: Warnemünde, Ole West
*
*

uni-duni-tê

*
.
Fui à última escola que me propus a conhecer. Seis no total da via crucis. Seriam sete se naquela ainda tivessem vagas para 2009. Agora só falta colocar uma ao lado da outra, clicar no comparar e escolher uma delas. Ou nenhuma delas.
Queria que fosse mais fácil.... ah como eu queria....
*
imagem: Soccer Player, Pablo Picasso
*
*

18 agosto 2008

amor de dois

*
.
em 15/8/08, às 16:00, fal disse..
.
mulher adorável, exata, querida.
sua fita chegou.
eu preciso te abraçar e te beijar e me lembrar do seu cheiro.
eu preciso te dizer dos anos que passaram e levaram o que eu tinha com eles, e me deixaram como um pano de chão, tão doída e pequena e irrelevante.
eu preciso saber de você, porque faz tanto tempo e quando o tempo ainda não significava, você usava canetinhas com cheio de fruta.
eu? eu não vou a lugar nenhum.
.

.

Resposta de Nina postada no LV do Drops da Fal
.
Fico feliz que a fita tenha chegado. Eu te mandando uma gravação de presente e você enviando outras para a mãe do Alexandre. Bonito isso.
Mais bonito ainda foi a mensagem que você deixou lá no nana-nina-nao. Eu também preciso saber de você. Eu também sinto que existiu um intervalo de tempo que passou, que se desfez, que nos deixou em lugar nenhum. Tenho você como referência, daquilo que foi, do que só existiu nas lembranças, mas que dá para alcançar de volta. Não sei quando pode acontecer, mas esticando os braços, os dois braços, você lá e eu cá, quem sabe a gente não se alcança. Quem sabe dia 2.
.
saudades
nina
*
imagem: Begonias, Crysanthemus /Bashi
*
*

bienal do livro

*

Leio 3 ou 4 livros ao mesmo tempo. Os que ficam no Guarujá, ficam no Guarujá. Os de cabeceira, são de cabeceira. Os que estão na estante, estão na estante. Os de banheiro, são de banheiro. Dentre os 3 ou 4, terminei a leitura de um: Em Águas Profundas - Criatividade e Meditação, de David Lynch.
Os capítulos são curtíssimos, a leitura é rápida, dá até para ler inteiro na livraria. Só isso.
Fiquei na dúvida se foi ele realmente que escreveu o livro. Por várias passagens, pensei que fosse um homônimo. O livro nem é ruim e nem é uma obra literária. Não é porco, nem nariz de porco. Definitivamente, não combina com o Lynch. Como diriam uns, não orna. Causa estranheza onde não deveria. Não orna e não cabe.

*
*
Título: Em Águas Profundas - Criatividade e Meditação
Autor: David Lynch

Tradução: Marcia Frazão

Editora: Gryphus
*
*

12 agosto 2008

martelo amarelo

*
*
O chaveiro consertou o que não estava quebrado.
Desmarquei de novo a entrevista no Caravelas.
Quando o pai já se foi, o Dia dos Pais fica ainda mais importante.
Fui destratada no Fórum de Pinheiros.
Emputeci quando não pude ir à festa do sábado à noite.
Não sei se sou clara.
Li que dor de ouvido dói pra cacete.
A entrega do projeto é na terça-feira.
Religião é balela.
Tenho que ir ao cartório amanhã sem falta.
Vou para Lisboa.
Estou com a mesma roupa faz três dias.
Cansei de escolher.
A azia veio depois dos cafés de madrugada.
Ganhei um livro e ainda nem consegui agradecer.
Em Hollywood, largou tudo e foi para Grécia.
Chorei de novo. Chorei de raiva.
Não vi Amores Brutos.
O Fê está com otite.
Eu cobro a minha memória.
O óbvio para mim não é óbvio para você.
O computador vai ser formatado.
Não existe casa sem dor.
Poupança para Disney.
Não durmo há duas noites.
Batman e Coringa pelo computador ficam uma bosta.
O tímpano está aberto.
Tem duas moscas na sala.
A gravata do Guido é ridícula.
Jantei pizza no escritório.
Viu o caixão do tio do amigo. Quando foi?
Quem decide sou eu.
Os olhos ardem e o sono foge.
Na folha 11 tem um erro.
Vou para Barcelona.
A casa aumentou.
Cheiro de pus, cheiro de manjericão, cheiro de chulé.
O Córrego Pirajussara fede. O Rio Pinheiros também.
Tinha sangue no travesseiro.
A luminária quebrou na minha mão.
Minha mão alivia a sua dor.
Os chineses deviam ganhar mais bronzes.
Xarope doce demais.
Ser autêntica é minha sombra. Ser honesta é obscuro.
Vou para Praga.
Mulher elegante é taxista.
Comprei balas e joguei fora.
BIP que não teve retorno.
Agostinho pegou os remédios.
Ele fala dormindo.
Ema, ema, ema - Cada um com seu problema.
O Claritin que estourou.
O bicho que eu matei.
Arsenicum para mim era veneno.
É um saco, é um saco, é um saco.
Eu teclo alto demais.
Eu vendo, eu compro e eu vendo.
A inveja entrando pelas frestas.
O taxista não tinha troco.
Eu mudo de idéia toda hora.
Cadê a lagartixa?
O supermercado ficou para depois.
Esse lado da cama é meu.
Escorregou pelo ralo e puxei de volta.
Ele e eu temos medo do escuro.
Eu e ele temos medo de ficar sozinhos.
Aquilo que só eu entendo.
Vou para Amsterdam.
Tá foda, meu amor, tá foda.
*
*

01 agosto 2008

prá frentex

*
...
Eu já sabia de longa data que a senhoura minha mãe curte um surfe básico.
Descobri esses dias que a mesma senhoura distinta é fã do House.
Será que ela já tem um iPhone e eu não estou sabendo?
*
*
*