17 novembro 2008

amor de dois

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Não nascemos da mesma mãe, não nascemos do mesmo pai, nascemos do mesmo livro. Deus devia estar lendo a mesma página quando nos imaginou.
Você é a página da esquerda e eu sou da direita. Você me antecede. Só faço sentido depois de sua leitura.
(...)
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Carta para Mana Amada, de Fabrício Carpinejar
blog Fim da Linha
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O início da carta do Carpinejar é lindo. O final também – e triste. Para minha irmã Érica, que fez anos dia 15, fico somente com esses dois parágrafos.
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imagem: A Thousand and One Nights, 3 parts - de Henri Matisse

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sucesso

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gosto muito dele como professor
gosto muito dele como amigo
gosto muito dele como escritor
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Desconforto sendo lançado hoje na Livraria da Vila
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sucesso, Fernando

eu te vejo lá
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13 novembro 2008

rain rain rain

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Chorei feito uma porca na sala da médica. Dentro do carro. No banheiro da cafeteria.

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O que você sente quando fala da morte do seu marido?

Que pergunta mais idiota, meu deus, que coisa mais idiota. Olhe para mim, nos meus olhos, e faça a pergunta de novo. Por favor.
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12 novembro 2008

vai levando

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mesmo com toda a fama, com toda a brahma
com toda a cama, com toda a lama
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa chama
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mesmo com todo o emblema, todo o problema
todo o sistema, todo Ipanema
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa gema
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mesmo com o nada feito, com a sala escura
com um nó no peito, com a cara dura
não tem mais jeito
a gente não tem cura
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mesmo com o todavia, com todo dia
com todo ia, todo não ia
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa guia
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mesmo com todo rock, com todo pop
com todo estoque, com todo Ibope
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando esse toque
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mesmo com toda sanha, toda façanha
toda picanha, toda campanha
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa manha
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mesmo com toda estima, com toda esgrima
com todo clima, com tudo em cima
a gente vai levando, a gente vai levando
a gente vai levando, a gente vai levando essa rima
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mesmo com toda cédula, com toda célula
com toda súmula, com toda sílaba
a gente vai levando, a gente vai tocando
a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula
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música: Chico Buarque e Caetano Veloso
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imagem: primavera em casa

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11 novembro 2008

nothing to think

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Resolvi ir ao supermercado andando. Meu lado madame cruela chicoteando as costas. Anda escrava, justo hoje que é o rodízio do carro, a nêga compra 5 quilos de arroz e volta carregando na cabeça. Sofre mula. Eu não pago penitência fazendo flexões. Eu pago minha burrice carregando sacolas de supermercado. E com garoa no rosto.
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O farol, graças a Deus, estava vermelho para os pedestres. Daria para colocar as sacolas no chão e descansar os braços. Olhei para a lâmina d’água cinza chumbo na guia e preferi agüentar o peso por só mais alguns (intermináveis) quarteirões. Ô catzo de farol que não muda nunca.
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Enquanto atravessava a avenida pensei seriamente em comprar uma bicicleta. Muito mais prático. Penduraria as sacolas no guidão, igual lá no nordeste, e sairia pedalando na boa. Simples assim. Tão simples quanto o japa que foi no churrasco do Caco de bicicleta. Lá na Av. do Sol, uns 75 km desse chão aqui. A mulher e os dois filhos foram na garupa. Impressionante.
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Tenho inveja desse povo esportista. O japa da bike causou frenesi quando entrou na piscina. Delícia de festa quando tem piscina, não? O sol ajudou. Era a festa de 4 anos do Caco, com rango da hora e muito, muito japa.
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No meio do churras, um mini japa chorava porque tinha se perdido do pai. Como é o nome do seu pai? O menino olhava para mim e voltava a soluçar. Ele se recusou a me ajudar. Daí, eu pensei no óbvio: todos os homens japoneses se chamam Eduardo, Jorge ou Paulo. Eu teria 30% de chance de acertar em cada tentativa. Os outros 10% de japoneses se dividem em Mário ou Edson. Isso é regra. Não existe japa chamado Acácio, Silvio, Bruno ou Frederico.
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Pronto. Cheguei no portão branco da minha casa. Com caraminholas na mente, o caminho encurta e as sacolas molhadas ficam mais leves.
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imagem: japanese road sign, wikipedia
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10 novembro 2008

superlativo

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As coisas em casa perderam o cheiro. A vida está uma inércia.
Rewind, rewind, rewind. Next, next, next. Tudo muito chato, besta e desbotado.
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Uma das poucas coisas que ainda gosto de fazer é sentar ao redor de uma mesa de jantar e passar o tempo com meus amigos. Na roda de conversa surge sempre um assunto do nada que pega fogo, tipo combustão espontânea. Dá pano pra manga. No ápice da discussão, aparece aquela fala: põe isso no blog!
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Colocar no blog virou uma expressão. Significa que algo engraçado ou inusitado ou idiota ou trash aconteceu com você; ou que você presenciou uma cena com essas características. O põe no blog enfatiza os adjetivos. É o superlativo de uma opinião. O atestado para o trash ficar mais trash, o engraçado ficar mega engraçado.
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Ontem o Fê estava assistindo Padrinhos Mágicos na sala e eu preparava o strogonoff na cozinha. Ele começou a rir sozinho. Perguntei o que tinha acontecido. Ele veio gesticulando até a geladeira, imitando o Timmy Turner, encenando caras e bocas. Falava de um jeito escrachado. Demorou uns minutos para ele conseguir explicar o porque da risada. E depois da explanação eufórica, finalizou:
- ai mãe, foi muito irado... essa eu vou colocar no blog!
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Ainda bem que esse menino é a brisa da casa.
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imagem: Timmy from The Fairly Oddparents, ilustração de jimworthy
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04 novembro 2008

time after time

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em época de cindy lauper, tem camarada em buenos aires reclamando que não tem postagem nova por aqui
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continue reclamando, porque o tempo aqui é curto e as obrigações são tão maiores que a vontade alheia, inclusive a minha
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e o blog, meu chapa, o blog é só ficção
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imagem: Clockface, de Boulle
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23 outubro 2008

jogo dos sete erros

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imagem: Colour studies with technical explanations I, de Kandinsky
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22 outubro 2008

venus

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ela está cansada de ir buscar
ela quer ficar onde está
ela sente dores no corpo
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eu persisto no passo
eu limpo a mente
eu tolero a dor
eu minto
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ela intercala os dedos
para lembrar de outras mãos
ela toca texturas
ela usa luvas
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eu tenho fome
eu tenho frio
eu tenho sede
eu não tenho você
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eu sinto o cheiro do meu avô
os peixes são mais de mil
a fêmea é vermelha
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imagem: Birth of Venus, de Sandro Botticelli
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21 outubro 2008

imprensa marrom

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(...) No dia seguinte, peguei a mesma revista, olhei todas as fotos de novo e fiquei pensando como a minha vida seria resumida por um repórter em uma matéria de revista semanal. Foi então que percebi a idiotice daquela reportagem. Que ousadia compactar a vida das tantas vítimas em meras linhas. Que desrespeito retratar as dores e alegrias de uma pessoa em uma única foto. E ainda na semana seguinte, ver num rodapé insignificante, uma série de erratas de nomes trocados. Achei um descuido tremendo. Tanto fazia se o nome daquela senhora fosse Adelaide ou Elcita. O importante era dizer que aquele rosto morreu junto com os netos. O foco não estava nas pessoas, mas sim na história que elas poderiam gerar, que o repórter poderia narrar e concluir por si só que fulano era feliz ou não. Não temos esse direito de supor ou concluir sobre algo da vida de ninguém. (...)
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* nina em troca de e-mails
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imagem: Untitled 11, de Ralf Bohnenkamp
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20 outubro 2008

indicações


William Somerset Maugham
Guy de Maupassant
Giovanni Boccaccio
Nikolai V. Gogol
Miguel de Cervantes
Geoffrey Chaucer
Katherine Mansfield
Karen Blixen (Isak Dinesen)
A. P. Tchekhov
Vladimir Propp
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essa foi a lista de indicações que ele me passou quando soube que eu estava fazendo um curso de literatura.
Para poucos, meus caros, para poucos.
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imagem: Cyclades Head, Pixi Museum
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19 outubro 2008

eu - tu - ela

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eu corro atrás e dou voltas
eu quero te ver correr na minha direção
eu corro em linha reta pensando em um dia voltar para casa
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ela se desespera quando não atualiza leituras
ela se responsabiliza por tarefas não cumpridas
ela quer interpretar do seu jeito
ela não gosta de julgamentos
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atrasada, eu atendo o que a vida impõe
eu não gosto de julgamentos
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eu quero ser indepente - dela, deles e do meu desejo

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imagem: The Face of Charity - 1504, de Sanzio Raphael
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18 outubro 2008

lugar algum

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Ela se acostumou ao seu olhar. Para não se esquecer dos olhos claros, mantém sua foto na cabeceira. Já nem chora tanto assim, e deixa a foto ser coberta por brincos depositados ao final do dia. Ela é imprecisa, mas os seus olhos, tem o cuidado de não tampá-los.
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Ela toma banho às três da manhã para espantar o sono, porque tem medo de dormir. Ela tem medo da noite. Ela não quer ter pesadelos. Não quer sonhar com o que já se foi, com o que nunca aconteceu, com aquilo o que você não verá. Ela tem medo de não sonhar. E de acordar, ou não.
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Ela se acostumou a ir e vir com você.
Sair e voltar, subir e descer, abrir e fechar.
Ela se acostumou a ir e vir sem você.
Sair e voltar, subir e descer, abrir e fechar.
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Ela quer encontrar. Algo nela, algo em você, em algum lugar.
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Ela quer perder. Algo nela, algo em você, em algum lugar.
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Ela quer.
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imagem: Die Tänzerin, de Egon Schiele
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17 outubro 2008

femininas

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* adonis * aphrodite * elektra * medusa * venus *
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femininas de Franz Ruzicka
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15 outubro 2008

jantar no sofá

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No jantar, comemos McCain sorridentes com catchup. Alguém já provou Obama veggie burger?
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Um sujeito que mantém a ex-namorada de 15 anos como refém tem mais destaque na mídia que Martti Ahtisaari. O mundo poderia ser melhor, muito melhor que isso.
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O rapaz da propaganda da Tim tem olheiras maiores que as minhas. Isto é, o cara é feito de olheiras, tronco e pernas.
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Caros leitores, mulheres são incapazes de atingir o mínimo de competência e são naturalmente defeituosas. Se você é dono do seu negócio, não contrate mulheres. É o que diz a propaganda do Buscofem.
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14 outubro 2008

eu estou blue, você está blue?

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nasdaq despenca
dólar dispara
feriado no japão
efeito dominó
unha roída
e sobe e desce
e oscila
e sobe e desce
e cai
de quatro
injeção de dinheiro
a culpa é deles
perdendo o que não tem
calor do cão
salvar o mundo
mudança de planos
o negócio tá feio
coração forte
invasão de siriris
ou vice-versa
...
e eu aqui, firme e forte,
trabalhando, trabalhando, trabalhando
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13 outubro 2008

pão cuca

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Sou cliente de carteirinha da Cobasi. E do Mambo. E da Ri Happy. E da 2001. E da Livraria da Vila. E da banca do tio Ciro. E do Vipão. Enfim, sou consumidora voraz e contumaz. Abriu um Wall-Mart na frente do Ceasa. Peguei o Fê na escola e fomos de mochila e cuia para conhecer aquilo que é exatamente igual a todos os outros. Tá, nada de novidade em lugar nenhum, mas a gente estava achando o máximo conhecer o vaumárti novo. Era uma segundona, não tinha nada em especial para comprar e por isso mesmo, a gente acabou pegando só baboseiras.
O Fê escolheu um espaguete. Não é Barilla nem Petybon. É espaguete para ficar na piscina, sabe? Um troço comprido de espuma que bóia – e que mal cabe no carrinho ultra novo do vaumártir. Súúúper útil, ainda mais quando furô não é lago e a piscina mais próxima da nossa casa é da escola de natação, onde a população de espaguetes é maior que de humanos.
Eu peguei um frango assado pensando no jantar e um shampoo anticaspa.
*
- mãe, tô com fome... pode abrir isso? – apontando pro frango assado
- ih Fê... tem que pagar antes
- mas eu tô com fome mãe...
- olha só Fê, presta atenção... o moço tá falando alguma coisa
- que moço?
- o do alto-falante
- não é alto-falante.... é gritador mãe, é gritador
- ó Fê... tá tendo degustação na padaria
- e o que é degustação?
- é comida na faixa
- faixa? faixa preta?
- vamu lá Fê... deve ter alguma coisa pra você comer
*
... e venham provar o pão cuca que tá saindo direto do forno da nossa padaria! Aqui e agora! Tem cobertura de côco e de doce de leite... olha que farofa saborosa!
*
- vai lá Fê, pede um pedaço pra moça lá
- mas tem muita gente mãe
- vai lá filho.... cê não falou que tá com fome?
*
E o Fê se enfiou no meio das pessoas pra pegar um pedacinho do pão cuca. Ele sumiu e apareceu de mão abanando.
*
- acabou mãe
- mas já acabou?
*
... calma minha gente, tá saindo mais pãozinho.... venham participar da degustação.... somente agora na nossa padaria...
*
- olha Fê, chegou mais
Olhei para um lado, para o outro e cadê o Felipe? Olho para o burburinho da degustação e lá estava ele – de espaguete em punho, chacoalhando o troço para abrir espaço e provar o tal do pão cuca.
Do lado, o moço do gritador continuava falando no microfone.
*
- E todo mundo saboreando essa delícia gaúcha... é uma delícia ou não é? Tá gostoso minha senhora? Vamos aproveitar e levar para casa um sabor de cada que é para a família toda, certo? Olha só esse rapazinho aqui... como é o seu nome?
- feglhifi
- como é? A boca dele tá tão cheia do nosso delicioso pão cuca... como você se chama?
- fe-lhi-phe
- ah Felipe! E o que é isso que você tá segurando?
- espfhagueffi
- não, não... na outra mão.... ah é o nosso pão cuca que as crianças adoram! Opa! Tem um espagueti querendo comer o nosso pão cuca!
*
Putz, eu lá de longe, fiquei espiando por trás de uns salames pendurados.
*
- então minha gente, que sucesso de degusta.... pois não?! O nosso amigo Felipe quer falar alguma coisa
- ô moço.... você pode levar esse espaguete pra minha mãe? eu quero pegar mais pão... ela ta lá ó
*
O moço veio segurando o microfone numa mão e o espaguete na outra. Logo atrás veio o Fê, mastigando satisfeito, com as mãos transbordando de pão cuca.

- que sucesso minha gente! que sucesso é o nosso pão cuca!

*

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imagem: pão cuca, receitas GE

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09 outubro 2008

fê-losofando

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conversas no carro, depois da escola...
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- mãe, o tio da natação me aprendou uma respiração maneira
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- hoje teve cineminha na escola
- que filme passou?
- vida de inserto.... é da formiga que fazia tudo certo, sabe mãe?
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- no parquinho a gente brincou de polícia e ladrão
- e você era a polícia ou o ladrão?
- eu era o ladrão
- é mesmo Fê?
- eu corri tanto, corri tanto, mas eles me pegaram.... eles morreram com a minha vida
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*
- o André tem o googles mais raro de todos. Ele ganhou de dia das crianças. É o dai (darth) vermelho. Só que é amarelo.
- puxa Fê... e isso é legal?
- é irado mãe! Ele tem também o foguinho... o que tem fogo na cabeça
- ah... mas o que são googles?
- são uns bonequinhos assim ó
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*
- eu queria ter 85 anos
- nossa Fê! Por que 85 anos?
- pra poder fazer as coisas que eu não consigo
- e o que você não consegue fazer?
- o cabelo do Ben10 do jeito que o Danilo faz
- o Danilo é mais velho que você.... por isso que ele consegue fazer
- mas mãe, se eu for mil anos mais velho que o Danilo, eu vou conseguir fazer o cabelo do Ben10 até quando ele for velhinho.... aí vai ser a minha vingança....
*
*
- sabe o relógio do Ben10, mãe?
- sei sim.... o omnitrix?
- hoje eu descobri o que é omnitrix
- uau!... e o que é?
- é homem-ni-trix
- como assim?
- cabe num homem
- não entendi Fê....
- é o relógio que cabe num homem mãe! Porque trix é relógio em chinês!

*
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- na história do tio Salmir, os meninos foram para o planeta gelo
- hoje teve contador de histórias?
- teve sim.... como chama mesmo o planeta gelo?
- pólo sul?
- é... eles foram para o paulo sul
- como?? Paulo Zulu??
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- você quer passar na banca do tio Ciro pra comprar figurinhas?
- quero sim mãe
- quantas figurinhas você vai querer?
- quarenta
- tudo isso?
- é!
- então a gente passa em casa para pegar o seu dinheirinho
- mas vai comprar com o meu dinheirinho?
- claro né Fê
- então eu quero dez..... dez não, vou querer nove porque um é de graça
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Imagem: San Diego, de Dennis Stock
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uma carta de amor

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(...)
E de repente eu que sempre fui tão desligado lembro de detalhes, e de novo tuas manias em mim, engraçado isso, elas ficaram... acho que pra você vir buscar. (...)
*
mademoiselle no pé na estrada...
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imagem: Bandana Niki, de Saint-Phalle
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08 outubro 2008

hellôôo-uo

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A conta da Telefônica deste mês foi presenteada com um serviço que eu não solicitei. Liguei para a central de relacionamento.
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- boa noite, eu queria cancelar o Speedy
- qual o motivo senhora?
- eu não pedi esse serviço
- aqui consta a contratação desde 2001
- mas eu cancelei o speedy faz muito tempo! cancelei no ano que meu filho nasceu!
- entendo senhora.... em setembro de 2008 houve uma solicitação para contratar novamente
- mas quem solicitou?
- o assinante da linha
- sei...
- qual o seu grau de parentesco com o assinante?
- esposa
- foi ele que solicitou, o seu marido
- desgraçado.... faz tempo que ele não dá as caras
- isso é muito comum, senhora
- isso o que?
- agir de má fé
- é.... acho que ele fez essa solicitação do além
- realmente.... não foi correto ele solicitar o serviço sem consultar a senhora
- e agora, o que eu faço?
- vou gravar o requerimento e meu supervisor irá analisar em 10 dias corridos
- mas eu pago a conta desse mês ou não?
- sugerimos que aguarde uma posição dentro de 10 dias e que a senhora converse com o assinante da linha para esclarecer a contratação do speedy
- tá bem....
- mais alguma coisa que eu posso te ajudar?
- não obrigada
- a telefônica agradece a sua ligação e tenha uma boa noite
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*

O inventário da linha telefônica saiu há duas semanas. Preciso urgente chamar o Chico Xavier para transferir a conta para o meu nome.
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imagem: Man on the Moon, Anônimo
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aflições

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Entraram na casa vermelha. Abordaram a empregada que estava lavando a garagem em plena luz do sol. A filha do arquiteto famoso fez a mala e foi embora. Justo ela que era tão encanada por não ter vizinhos.
Aqui é a rua das famílias de dois ou mais: um é cachorro e o restante é gente. Era a única casa sem cão.
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O pai continua de olhos arregalados com essa bagunça mundial de crise financeira. Esses dias ele foi ao banco para conversar com gerentes-investidores. Voltou reclamando dos funcionários que saem chorando (literalmente) por causa da impaciência de alguns clientes que se recusam a entender que por trás das mesinhas de atendimento, o máximo que podem fazer para acalmá-los, é oferecer um cafezinho adoçado.
É por isso que não tenho conta no mesmo banco que o pai. Ser apontada como sendo a filha-do-pai deve ser desagradável.
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Faz mais de uma semana que ele tem cólicas. Não é por causa da crise financeira. É porque ele decidiu que vai ter um blog. Para o alto e avante, amigo.
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imagem: Fous ça se voit, portfolio 16, Costa Lithograph
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05 outubro 2008

habilidades

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mãe, olha só o que eu consigo fazer: sombras ilcronizadas e movimentos condras!!!
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devo ficar mais atenta?
isso é vocabulário de alguma milícia??
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imagem: L'Acrobate, de Pablo Picasso
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jedi masters

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e os treinamentos para jedi masters continuam em casa
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- Bá, eu sou o Luke e o Boba Fett. Quem você é?
- eu sou o Han Solo e o Batata Frita
??
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- Lucas, você fez um pum!
- não é Lucas, Ba!!! É Luke! Lu-quis-cai-ló-quer!!


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02 outubro 2008

dormindo com o inimigo

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Antes que você perceba, o lado negro da força está dentro da sua casa – usando até a privada. Búúúúúúúú.....

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delivery

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é,
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vão entregar 2 coisas aí no seu endereço:
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1 - o presente do dia das crianças do fê (pacote da ri happy)
2 - o presente do teti (pacote da fnac)
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thanks, ni
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imagem: Emballages, de Bianchetti
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01 outubro 2008

a vila

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Não é só o amigo dela que faz figuração.
Eu, o Fê e a Bá já tivemos nosso momento Hollywood.
Eis nossa ponta no The Village.
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30 setembro 2008

mutante

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Gente, eu tenho ficado em dúvida sobre a paternidade do Felipe. Sei que isso não é assunto para brincadeira, mas esses dias ele tem agido estranho. Anda sombrio, com a respiração meio ofegante. Levei uma amostra de sangue para análise de DNA. Tomara que seja só uma mutação genética, porque desse jeito, ele não é a cara do pai nem morto.... ai que trocadilho imbecil...
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A foto menor foi tirada no metrô, na volta da terapia, em pleno horário de pico. Esse mini-darth-vader veio causando da estação Ana Rosa até a Vila Madalena...
Figurinha esse Felipe...
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amor de dois e mais

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uma carta de amor:
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(...) o Tato e a Nina? Ah! esses sim eu os conheço a fundo, esses eu os amo! Fui deitar, mas não conseguia dormir. Ainda aquelas palavras estavam em minha mente e que apesar de terem me tocado, não sabia bem o porquê. De repente me veio o Jorcilei na cabeça, lembrei me dele na cozinha, aí as coisas foram ficando claras: poderia comer a mesma comida do Jou num restaurante, mas não teria o mesmo sabor daquela que o próprio Jou prepara, na cozinha dele, no toque que ele dá, no tempero que ele mesmo colhe do vazinho da sala. O chef do restaurante eu não sei quem é, mas o Jou eu o conheço e o amo também. Isso faz toda a diferença! Caí no sono logo em seguida.

Beijos,

M.

*
imagem: Summer Bouquet, de Pablo Picasso
*
*

29 setembro 2008

suspiro de arantes

*
*
pele indiana, Londres nos olhos
receitas de gengibre e cardamomo
fios grisalhos, presos ou soltos, o verbo é nobre
*
relata por prazer, por crença, por verdade
rotina de fé, vivência, criação
Galileu e Le Monde
a chegada na fronteira oposta do limite
*
trança sete leis sagradas com maestria
domina além disso eu sei - e com voz suave
conta-nos porque aquela não está na ciranda
*
faz graça da devoção
faz sons que traz meu avô
faz de conta que você já viu
*
e
respira
e
respira
e
nunca
e
único
e
limpo
e
ecoa
*
ecoa
*
eco
*
e
*
*

*
minha homenagem a Arantes, que tive o privilégio de conhecer em dias abençoados
*
A natureza às vezes se excede. E reúne, num só homem, uma quantidade de talento capaz de suprir um século inteiro.(...)
A obra científica do poeta Goethe, de José Tadeu Arantes

publicado em Galileu nº 100
*
*
imagem: Colour Study Squares, de Kandinsky
*
*

28 setembro 2008

amor de dois

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*
- mãe, o que você quer ser quando crescer?
- puxa! que pergunta difícil filho! acho que eu quero ser uma pessoa melhor
- pode escolher outra coisa mãe....
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*

imagem: Head, de Pablo Picasso
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*

27 setembro 2008

volta no quarteirão

*
vou levar minha mãe para dar uma volta no quarteirão
ela está arrasada
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Paul Newman morreu
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*
*

finesse

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Conversa na porta da escola entre pai-de-coleguinha e mãe-nina
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- e aí Nina! já decidiu em que escola você vai colocar o Felipe?
- nossa... que maratona, não? escolhi o arrozal das dores
- é mesmo? eu já ouvi falar nessa escola... não é aquela escola de bicho-grilo?
- engraçado... não tive essa impressão não....
- fica tranqüila.... os pais é que são bicho-grilo
- ah tá.... mas como assim?
- tem jornalista, escritor, músico, arquiteto, terapeuta....
- sei... arquiteto....
- mas a escola parece que é boa, muito boa!
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Esse pai-de-coleguinha usava sapatos brancos.
Médico, dentista, veterinário ou bicheiro?
Com certeza, é bicheiro. Para ter bicho-grilo no vocabulário, esse cidadão só pode ser do reino animal.
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imagem: Untitled, Blocher Lithograph
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26 setembro 2008

dmband

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pessou-as, programaço
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dave matthews band dia 28 jockey SP
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imperdível, mesmo sem LeRoi Moore
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... desapega nina, desapega
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imagem: dmband, foto divulgação
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eu estou ecofriendly, você está ecofriendly?

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Quando eu era criança, para comprar uma cerveja ou um refrigerante, tinha que levar vasilhame para o supermercado. Se tivesse festa, a gente juntava vasilhame das casas dos tios, dos vizinhos, de quem fosse para poder comprar bastante bebida. E todo mundo emprestava, mesmo quem não tivesse sido convidado para a festa. Depois a gente devolvia a garrafa vazia para os donos camaradas. Era uma coisa bem solidária.
*
Eu lembro que o balcão dos vasilhames ficava ao lado do guarda-volumes, os dois do lado de fora do supermercado. Era lógico o sistema. A gente chegava carregando as garrafas nas sacolas de feira, deixava as garrafas vazias e guardava as sacolas, também vazias, nos escaninhos do guarda-volumes. Não se entrava no supermercado com sacola vazia, para que a luxúria-avareza-gula não se manifestasse durante as compras. Era para o nosso próprio bem. Na hora de embora, levava tudo cheio: garrafas, sacolas, mãos e moral.
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Hoje o ritual é outro.
Primeiro que sacola de feira é fashion. Chama ecobag. É feita de fibra de semente de carnaúba do noroeste do amazonas, do lado brasileiro para bem dizer. Próximo lá da tribo xexêba. A fibra não vem da cultura extrativista. Ela é derivada do bagaço do cocô da vaca leiteira. Tudo tão bem lavado, que nem cheira mal.
O segundo ponto é que hoje a gente coloca os vasilhames nos conteiners, ou recipientes, ou caixotes pintados com cores primárias e com desenho de flechinhas, tipo um Orobouros, só que triangular. Tudo para ser reciclado. E outra, vasilhame é palavra antiga – agora é ecopet.
O terceiro quesito diz que é correto a gente entrar nos supermercados com as tais sacolas vazias. Quanto mais ecobags, mais consciente você é. Na sua carteirinha de vida vão ter várias estrelinhas do titio Deus dizendo que deixou um mundo melhor para as nossas crianças.
*
Dito isso, eu estava na fila do caixa do pão-de-açúcar da panamericana. Na minha frente, estava o casal cidadania exemplar. Cada um carregava três ecobags. Sério gente, três! Uma em cada ombro e a terceira na mão direita. Os dedos estavam gangrenando, mas o reconhecimento valida o esforço. Quase pedi para tirar uma foto com eles.

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A moça foi passando as compras e o moço foi tirando a embalagem daquilo que já tinha sido registrado. Tchau caixa de sucrilhos, tchau plástico que envolve 6 latas de coca zero, tchau caixa de tampax... péra aí... o cara tá abrindo caixa de tampax??
Tem dó, né pessoal! Ainda bem que a moça falou “não môôrrr, é melhor levar esse na caixa mesmo”.
A moça parecia mais sensata. As ecobags dela eram bem discretas, bem costuradas por sinal. Não tinha marca, só estava escrito Raia de Goeye. É raio de sol em espanhol. Gente chique. Agora os do moço, tinha umas âncoras, uns pontos de crochê desenhados, cor de bandeira dos EUA, gosto duvidoso. No meio, dava para ler Yatchsman. Deve ser ecobag em inglês, né?
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Tchau embalagem disso e daquilo e foi me dando uma ziquezira animal. Nas compras do casaleco, digo eco-casal, tinham sete latas de batata pringles, suco canadense de romã e uva, pipoca de microondas igual de cinema, confeitos de amêndoas portuguesas, quatro tabletes do lindor milk, marzipan alemão, dois pacotes de café spress....
Putz, tudo o que eu a-do-ro, mas que não dá coragem de comprar porque eu prefiro comer todos os dias até o próximo salário.
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Nada de coisa básica gente. Nada. Não tinha uma frutinha sequer (nem das secas), um repolhinho, um nabinho, um alpistezinho, um leitinho, um peixinho... Essas coisas podem sujar as ecobags e deixam elas fedidas. Aí tem que jogar fora e comprar outro. Definitivamente, isso é anti-ecológico.
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Chegou a minha vez e vou encaixotando as compras. Não uso os saquinhos - não sou tão poluidora assim - sou adepta das caixas de papelão que ficam dando sopa. Na real, coisas encaixotadas são mais práticas para tirar do carro.
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- desculpa, você pode me dar uma licencinha?
Era o moço do eco-casal-camelo que voltou carregando tudo com os dedos gangrenados.
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- pois não, respondi educadamente
- é rapidinho, viu...?
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Eu achava que ele tinha esquecido de carimbar o papel do estacionamento. Engano meu. Ele apoiou a sacola brega dele em cima das minhas compras e cochichou no ouvido da mulher do caixa. Ela deu um punhado de saquinho de embalagens, aqueles que a gente empacota as compras do supermercado, aqueles que quem leva ecobag é justamente para não usar.... sabe?? Ele pegou com os dedos gangrenados, enfiou na ecobag e foi embora.
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- é que acabou os saquinhos de lixo da casa dele disse a mulher do caixa.
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imagem 1: Cow, de Andy Warhol
imagem 2: Play with your Food, de Elffers & Freyma
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