25 setembro 2008

cogito, ergo sum

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Foi num desses genéricos de Super Nanny – aquele programa que doutrina crianças normais com pais bananas – que escutei uma coisa dessas:
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- vai ficar de castigo! vai pensar, vai!
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Entendi mal ou pensar virou sinônimo de castigo? Senhoras e senhores, pensar é coisa ruim. Pensar é punição. Talvez para Descartes, Nietzsche, Freud, Sartre, Pessoa, Machado realmente seja. Não é o caso aqui. Estamos falando de cotocos de gente, crianças normais de 4, 5, 6 anos.
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Juro que eu era uma pessoa mais tolerante, complacência era meu nome. A idade avança, a gente fica mais crítico (ou chato, como queiram) e de repente percebe que idiotice generalizada dá uma dor de barriga do escambau. Dá um desânimo ver que a gente se esforça tanto para ensinar coisas decentes – e uma simples fala na televisão te joga de volta para o mundo da realidade.
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Outro dia, li a sinopse de um filme infantil. Uma professora de matemática deixa a vida no interior para ir atrás do sonho: ter uma vida de atriz. Sucesso artístico não no mundo das artes, e sim no mundeco eu-apareço-na-televisão. Triste, muito triste. Fica ainda mais catastrófico quando a “dona” do filme influenciou e ainda influencia manadas de crianças. É a nossa geração pensante vindo aí pessoal!
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Buenas, do filme eu ainda escapo, mas das leis não tem como fugir. Uma lei maluca determina que as crianças do pré-primário façam parte do ensino fundamental. Aí, os mandachuvas percebem a cagada que fizeram e vão repertir de ano os aluninhos de três anos. Tem pais chiando, escolas se descabelando e crianças sendo colocadas de castigo – para pensar, of course.
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Difícil, meus caros, difícil... Ainda mais que daqui a algum tempo eu estarei escrevendo errado. A reforma ortográfica vai foder (no sentido literal) quem escreve certo, porque quem escreve errado vai continuar escrevendo errado.
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A gente rema, rema, rema. Sempre contra a maré.
Só espero não morrer na praia.
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A man who does not think for himself does not think at all.
Oscar Wilde

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imagem: Hey you, de Roy Lichtenstein
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6 comentários:

erica disse...

pois é, irmã, eu que sofro de TOC gramatical, que escrevo tudo, ou quase tudo certinho, vou me foder... o Jou tá amando....

nina disse...

a gente vai ter que voltar para a escola aprender o be-a-bá, Érica...
ainda prefiro a reforma ortográfica do que aquela linguagem de adolescente conversando no msn.... aquilo sim é horrível!!
vâmu-que-vâmu
bj
nina

Luci disse...

tudo nivelado por baixo. é assim que é.
acabei de voltar da sorveteria. lá, uma mãe e dois meninos. o menor arrancava os guardanapos e atirava pela janela. e eu eu olha pra mãe. o filho subiu na cadeira, depois na mesa, berrando que queria o porta guardanapos. ai a dona mãe solta a pérola: 'não faz assim, filho! a moça vai ficar brava com vc!' (a moça da sorveteria, não eu).
o mundo foi povoado por gente 100noção. seremos expulsos em breve!
bj, Nina!

Anônimo disse...

a coisa tá feia Luci!
tem gente que terceiriza até a bronca...
vamos preparar os passaportes para marte!
bj grande
nina

stella disse...

nina,

lá na escola (quinta série para baixo), quando alguém fazia alguma coisa que a professora não gostava, ela mandava para um banquinho que ficava isolado num canto: era o cantinho do pensar. DO pensar, mesmo. senta lá no banco e vai pensar no que vc fez.

pois é, pensar já era castigo para a minha geração... e depois, já no científico, uma professora brigava com quem tinha'preguiça de pensar'

Anônimo disse...

oi Stella,
"pensar no que fez" ainda é uma orientação... não sou contra esse pensar...
pensar sobre atos errados faz bem. O que não pode acontecer é usar o pensar como punição, banalizado, sem explicação, aleatório.
Não existe cabeça sem pensamento, então que sejam orientados e produtivos, certo?

obrigada pelo post!
beijo grande
nina