30 abril 2008
honesta penúria honesta
Os vinte minutos que gastei para fazer o meu DIRPF e do Felipe me custaram horas e horas de flashback de 2007, 2006, 2005, 1989, 1976, etc.... Pois é, o Felipe tem CPF. Aí você pergunta “mas por que tirar o CPF tão pequeno?” E depois responde teatralmente “porque ele é dependente menor (suspira) e no processo do inventário (lacrimeja) os valores devem ser depositados em juízo (faz cara de quem manja) até completar a maioridade” e blá-blá-blá. Que inventário? Quem morreu? O meu marido faleceu faz um tempo assim ó, tipo mais ou menos, aliás foi bom vc comentar porque o CPF dele ainda está ativo, e eu tenho que ver se é isso mesmo, ou se eu tenho que correr atrás e vai cuidar da sua vida porque o IR já me fez lembrar de muita coisa tudo de novo. Inclusive que fazer declaração de IR, recolher o cocô do cachorro, comprar ração dos peixes, desafogar ralo, lavar o carro, trocar butijão de gás, virar o colchão de casal para diminuir os ácaros (só de casal, porque o de solteiro não é tão pesado), pegar as correpondências na caixa de correio, esquecer o meião suado dentro da mochila do futebol, comer (sem esquentar) o último pedaço de pizza que está 2 semanas na geladeira é tudo, tudo, tudo responsabilidade do homem da casa. E ponto final.
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“(...) Morte imediata a tudo, tudo mesmo, que não entendemos." **
Inclusive a declaração de imposto de renda. Penúria.
** ‘The Mob Song’, Drops da Fal
o óbvio, somente o óbvio
28 abril 2008
para thati
universo e tubarão
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descoberta
Mente sábia, decodifique somente o que é possível à alma. Mente sã, instale-se no vácuo e interprete-me a ausência da ação, a falta do personagem, o monólogo incompleto.
Mente clara, permita-me o entendimento. O vazio é essência.
Sim, a felicidade está na compreensão. Feliz estou por permitir a descoberta.
25 abril 2008
divindades
Lenita, em troca de e-mails.
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Lenita,
Que coisa mais bonita isso que vc escreveu.
Parabéns por seus 56 anos. Parabéns para esta vida. E para a vida de tantos outros que vc sabe iluminar.
beijo grande,
nina
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pedidos
Rafa, desde quando o seu blog tem que ser secreto? Faça urgente (!!!!!) uma sessão de desapego. Você diz :"welcome world" e nós responderemos: 'demorô!!'. Eu li tudo, tudo, tudo. É MUITO BOM! Queria tanto dizer para todo mundo que o dono desse blog secreto é MEU amigo.
Deixa eu colocar um link do seu blog aqui, vai?? Vou te dar 2 dias para pensar.
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- Traz o mesmo que ele - só que a carne no ponto. E uma porção de polenta.
Dentro do carro, Felipe coloca o óculos escuro do spyderman.
- Moço, ô moço!
Ele, o moço, olha para o carro.
- Oooi garotão! Tudo beleza? - sinaliza com as mãos.
- Moço! Eu também quero polenta.
Cena 2: Nina ri, olha pelo retrovisor a cara-de-pau-espontânea de Felipe. Farol abre e Nina cruza a avenida.
- ô mãe! Por que você andou? Eu queria uma polenta.
- Ai Fê.... você é muito engraçado.
- Mas por que você não esperou eu pegar a polenta? Eu ia te dar um pedaço.
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pedido 3
Conversa depois da terapia:
- Mãe, porque ela não vai poder ir na minha festa?
- Vai ver ela tem outro compromisso.
- O pai dela não deixou?
- Não sei Fê. Pode ser...
- Mãe, quando a gente chegar em casa você liga para a casa dela? Eu quero falar com o pai dela. É que ela não pediu direito.
nota: "ela" é a psicóloga do Felipe.
primeiros passos
Enquanto não domino esse troço de blog, não vou moderar comentários - talvez isso facilite.
Quem preferir, pode mandar pelo e-mail pessoal.
Tenham fé - um dia, a internet ainda vai comer na palma da minha mão..... ah, vai!!!
24 abril 2008
clipping
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"Outro dia eu li na Folha que mulher é sempre dois. Homem pensa nele, homem existe por ele. Mulher pensa sempre nela e num outro junto, existe por ela e por um outro junto: o filho, o marido, os pais, os amigos, o cachorro, e se bobear ela pensa no outro primeiro e deixa de pensar nela, deixa de se cuidar para cuidar do outro.
Isso é da natureza feminina, cuidar, nutrir, doar, acolher, voltar-se para o outro. Mas, às vezes é uma fuga, pra não ter que pensar em si. E poder pensar em si é uma das qualidades mais poderosas do feminino
Agora, me diz se nos dias de hoje, dá pra gente ter esses momentos de reflexão, de aprofundamento, de recolhimento ? Nos dias de hoje o mundo funciona com uma dinâmica muito masculina, e a gente tem que se adaptar, respondendo às demandas disso, o tempo todo: tem que produzir, tem que ser eficiente, tem que ser rápido.....
E ao final de um dia, a gente sempre fica com a sensação de que não deu conta de tudo que tinha que dar, e sente mal consigo mesma. Tendo empregada ou não, tendo marido que ajuda ou não, tendo avós participativos ou não. No fim das contas, o buraco é mais embaixo. É um buraco que a gente não preenche, porque mulher é assim mesmo. Mulher sempre acha que tem que ser por dois."
e-mail de Mana-É, querida sister
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clipping
Hoje sou a viúva-mãe-Nina. Sem este rótulo, quem sou eu?
Sou a filha-desta-mãe-e-deste-pai-Nina. Tirando isso, quem sou eu?
Sou a irmã-Nina, a profissional-Nina, a amiga-Nina, a vizinha-Nina, a cunhada-Nina, a cliente-Nina, etc
E tirando cada camada-rótulo desse corpo, o que me sobra? Chorei porque não sabia a resposta, além da palavra nada.
Quem consegue uma resposta, toca em algo divino. Estou tentando - sei que é para poucos.
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OFF FLIP
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Prêmio OFF FLIP abre inscrições para contos e poesias
Estão abertas até 21 de maio as inscrições para o III Prêmio OFF FLIP de Literatura. Podem participar autores de qualquer nacionalidade residentes no Brasil e brasileiros que residem no exterior. Este ano as inscrições serão estendidas também a autores de países lusófonos.
Promovido pela OFF FLIP, o Prêmio oferecerá no total R$ 5 mil aos vencedores, além de estadia em Paraty entre os dias 2 e 6 de julho e ingressos para mesas de debate da FLIP. Há também outras formas de premiação, como cota de livros do selo Record, exemplares da Revista CULT, passeio pela baía de Paraty na escuna Banzay e um almoço de confraternização no Restaurante Ilha Rasa.
Os contos e poemas serão avaliados por duas comissões formadas por escritores de expressão no cenário literário brasileiro. Uma terceira comissão avaliará os textos inscritos na categoria local. A premiação será durante a OFF FLIP, que acontecerá entre 2 e 6 de julho paralelamente à Festa Literária Internacional de Parati.
No mesmo dia da premiação será lançada a coletânea com os poemas e contos vencedores nos dois anos anteriores, a ser publicada em parceria com a Quarto Setor Editorial. O regulamento pode ser lido no endereço www.offflip.paraty.com, onde em breve estará disponível a programação da OFF FLIP 2008.
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22 abril 2008
Viver 2008
No ano que se passou, medos engasgados foram vomitados. E abriu-se espaço para novas fragilidades. Novos ou antigos, os temores autênticos aprendemos a combatê-los com espadas, verbos e silêncio.
Lições para o fim de nossas vidas, para outras e tantas outras vidas.
Definitivamente, 2007 não foi um ano de finalizações. Assuntos não foram esgotados. Não foi um ano sabático, muito menos de rotina de trabalho convencional. Foi um tempo de experimentação, teve um quê laboratorial. Nada de grandes desafios nem de marasmos perpétuos.
Talvez um ano de iniciações: enfim percebi o quanto sou “nada”. Sou ninguém. Ao compreender O Espelho de Guimarães Rosa – grande tudo – eu toquei no vazio, no puro, no ser-eu. Confesso que fiquei mais do que apavorada. E o que eu faço com essa descoberta?
Em 2007, a casa foi reformada. A parede áspera na sala não existe mais.
Enquadrei fotos, desenhos, postais, croquis, caricaturas.
Um amigo se foi em um acidente de carro – no dia do meu aniversário.
Os quatro anos foram festejados na fazendinha.
Montei um, dois, três aquários.
Minha mãe e eu tentamos traduzir Clarice Lispector para o japonês. Desistimos.
Anjos vieram para nos acompanhar. Alguns podemos ver, outros não.
Abracei minha irmã em seu casamento.
Segurei mais do que crianças em meus braços.
(do meu jeito) disse ao meu pai que o amava.
Senti superação ao ver meu filho cruzando uma linha de chegada.
Hamsa Hand será minha próxima tattoo. “Toki” será a próxima da próxima.
Imaginei adotar uma criança. Egocentrismo, altruísmo, modismo – é apenas uma idéia.
Ouvir minha mãe cantar lindamente deixou-me comovida.
Li mais do que escrevi. O pouco que escrevi, foi muito.
Sustentei para ser sustentada e vice-e-versa.
Em 2007, Oroborus esteve presente mais do que nunca.
Há poucos dias li uma obra de Elizabeth Kübler-Ross, uma médica psicanalista estudiosa da morte, do morrer, da não-morte e por aí vai. Dizia: (...) dei-me conta que não se pode confiar no futuro. A vida é sobre o presente.
Não vivemos do que se foi e não vivemos do que virá. O que nos sobra? Um delicado intervalo de vida entre passado e futuro, que pode ser um nada. Uma merreca. Uma ninharia. Mas pode ser eterno. Pode ser Viver. E isso sim, é Tudo.
A cada virada de ano, somos visionários. Apontamos dias esperançosos em um tal de “futuro”. Pouco a pouco esses dias vêm até nós – ou somos nós que vamos até eles. Depois, é claro, de viver hoje.
Em todos os aspectos, em todas as leituras, enquanto tiver significado, desejo que em 2008 sejamos presentes. Uns com outros, mas acima de tudo, presentes para nós mesmos.
Vejo dias claros.
Digo clareza, não claridade.
Luz em excesso pode cegar.
Vejo dias claros.
Viver 2008.
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Fal, Lih, Mani e Rui - Os primeiros....
Klimt
19 abril 2008
Sobre plágios
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como iniciar algo que já começou?
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- Sou muito convencional - disse na última sessão.
- Não, não é não.
- E se eu quiser ser previsível, besta, tipo gente comum? É, tipo pessoinha moldada, condicionada, transbordando normalidade?
- Nana-nina-não.... mas se é isso que vc quer...
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Pois bem, é por isso que agora eu tenho blog.
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