18 outubro 2008

lugar algum

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Ela se acostumou ao seu olhar. Para não se esquecer dos olhos claros, mantém sua foto na cabeceira. Já nem chora tanto assim, e deixa a foto ser coberta por brincos depositados ao final do dia. Ela é imprecisa, mas os seus olhos, tem o cuidado de não tampá-los.
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Ela toma banho às três da manhã para espantar o sono, porque tem medo de dormir. Ela tem medo da noite. Ela não quer ter pesadelos. Não quer sonhar com o que já se foi, com o que nunca aconteceu, com aquilo o que você não verá. Ela tem medo de não sonhar. E de acordar, ou não.
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Ela se acostumou a ir e vir com você.
Sair e voltar, subir e descer, abrir e fechar.
Ela se acostumou a ir e vir sem você.
Sair e voltar, subir e descer, abrir e fechar.
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Ela quer encontrar. Algo nela, algo em você, em algum lugar.
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Ela quer perder. Algo nela, algo em você, em algum lugar.
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Ela quer.
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imagem: Die Tänzerin, de Egon Schiele
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4 comentários:

erica disse...

Simplesmente sublime......

Marcos disse...

Me toca o coração, pois como já disse: conheço "ela".

Anônimo disse...

obrigada Érica...
é o tema do "reconhecimento" que tem muito pano prá manga.... ô se tem...

bj
nina

Anônimo disse...

que bom que conhece, Marcos... eu também a conheço

bj grande
nina