24 julho 2008

jogo de memória

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Tenho uma amiga de infância. Não estudamos na mesma escola, nunca fomos vizinhas, tampouco trabalhamos juntas, mas a nossa amizade tem perfil de cartão fidelidade: sem data de validade, pontos que se acumulam para nosso desfrute e não nos custa nada mantê-lo – pelo contrário, só nos dá benefícios.
Em comum, ou quase comum, temos o nome – Mina e Nina. Tivemos namorados iguais em épocas diferentes. Temos mães professoras: a dela de piano e a minha de japonês. Encontram-se às terças para ensaios do coral. A dela rege e a minha canta, junto com a Mina.
Outro dia ela, a Mina, deixou um comentário aqui no diga tu do nana-nina-não. Falava sobre registros e memórias. O tema ficou saltitando pela cabeça por uns bons dias.
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Mina disse...
Dizem que há mais de 2 mil anos atrás os egípcios escreveram nas pedras e assim a humanidade conseguiu manter os registros mas daquí para frente... a gente escreve e grava nos CDs, guarda tudo no Pendrive e nossa memória, a real não a virtual , onde será que vai parar? daquí a 2 mil anos???
22/7/08 05:12
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Nina diz...
Espero que a minha memória real não saia do lugar. Espero que ela fique na minha cabeça enquanto a humanidade existir, que não vá para frente, nem para trás. Fique onde está porque só ela me justifica. É só a mim que tem servidão, mais ninguém. Eu tenho as chaves que abrem as gavetas mais obscuras e nobres, mais assombrosas e evoluídas.
Os meus atos e desatos, os outros se encarregarão de mantê-lo no tempo. A minha memória, somente eu posso carregá-la. Dádiva ou punição, sou a única que saberei nomear. Já é o suficiente para não querer compartilhar com ninguém.
Mina, obrigada pelo seu post. Talvez tenha sido descomprometido, mas o seu recado me fez queimar neurônios. Isso é muito bom – thanks.

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imagem: Hôtel des Roches Noires, Trouville - Monet

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