26 agosto 2008

ano + ano

*
(...)
O João morreu dia 26/08/06. O Alexandre morreu dia 29/08/07 (certo?). O João se foi por causa de um aneurisma cerebral. O Alexandre, foi por parada cardíaca. Sim, foi de um dia para o outro. Sim, era jovem, saudável, normal e divertido. Sim, não usava cocaína e nunca correu a São Silvestre. Sim, estava fazendo planos e passava por um momento feliz na vida. Sim, teríamos um outro filho. Sim, tínhamos uma viagem marcada na semana seguinte da morte. Sim Nina, você é muito forte. Talvez Nina, não seja nem forte, nem companheira da fraqueza, não fique cega, nem destrambelhe, não faça nada. Solte, sim, solte. Soltar o que? Sim, foi foda, muito foda. Sim, a vida deve continuar, bola pra frente, sou muito nova, terei outros companheiros, mas como? Já passei da idade, mas vou superar, seu filho é o seu tesouro, vocês tem sorte por terem sido tão amados. O João era correto, deixou tudo pra vcs, tem isso, tem aquilo... e tem um dia longo que tudo é uma bosta. Uma bosta longa e fétida. Sim, amigos e família abrem as janelas para amenizar o intragável e aceitar um dia seguinte.
(...)
Wathever, o que eu queria mesmo te dizer Fal, é que depois de tudo o que eu li no seu blog, depois de tudo o que eu escrevi sobre a dor de perder algo precioso, eu sei que João, Alexandre, Lígia, e tantos outros, têm o mesmo significado. São pessoas que nos aproximam de sentimentos e laços, saudades e porquês, amor-dor-amor-dor-amor. São pessoas que nos chacoalharam para a vida em seus abraços e que agora temos a vida chacoalhada por falta deles. Talvez seja isso que nos torne reais e possíveis. Inteiras ou despedaçadas, mas presente todos os dias.
(...)
*
Faz um tempo, eu escrevi essas palavras (adivinha aonde?) no LV do Drops da Fal.
Hoje, dia 26 de agosto de 2008, tenho motivos para colocá-las aqui no nana-nina-não. Faz dois anos que o João se foi. Faz dois anos que aprendi a duvidar do que é certo ou errado. Faz dois anos que fiquei diante do olho do furacão. Há dois anos estou em terapia. Em dois anos, vi que não existe nada que seja absoluto, que a crença no amanhã só depende de hoje e que ontem já passou. Aprendi que escrever conforta, mas reler o que foi escrito ainda é doloroso e não redentor. Neste tempo, levantei muralhas, passei cadeados e esqueci janelas abertas. Nesse tempo, aprendi a reconhecer a dor e a não temê-la, menos quando ela me paralisa. É um tempo que não se define em palavras, porque é importante demais, é urgente demais, é vida e morte demais. Porque hoje, hoje faz dois anos.
*
*
imagem: Suonando Bach, Man Ray
*
*

7 comentários:

Anônimo disse...

Nina, querida, tudo bem?
O Alexandre faleceu no dia 27/08, e não no dia 29.
Vamos nos encontrar e conhecer no dia 02 né, no lançamento do livro da Fal.
Mal posso esperar para conhecê-la.
Um grande beijo,
Helga

Anônimo disse...

Nina, meu bem, esqueci de dizer que lamento tanto que vc esteja passando pela mesma dor da Fal, essa dor que a gente vê que é tão intensa, tão forte, tão torturante, e não pode fazer absolutamente nada para ajudar.
Um grande, forte, apertado e quentinho abraço para você, querida.
beijão
Helga

Anônimo disse...

Nina

Voce e Fal vivenciam meu maior medo, meu pesadelo de vida toda. Luci também passa por isso. E a Ligia, ai, Nina, a Ligia era maravilhosa demais...Um abraço...

nina disse...

oi Helga,
Maluco isso de querer encontrar pessoas que a gente nunca viu... eu também estou na expectativa.
E sobre a dor, só de saber que alguém está pensando em você, já é um grande alento. Tenha certeza.
beijo grande - até dia 2
Nina

nina disse...

oi Mani querida,
de todas vocês, só conheço a Fal, mas sinto todas vocês tão perto, tão aqui do lado... sei lá, às vezes acho que até a Ligia senta aqui do meu lado.
beijo grande
nina

Luci disse...

eu ainda não consigo colocar em palavras o que eu sinto, Nina... ou qdo consigo e releio parece tão pouco, tão simples de ser entendido.
qdo encontro pessoas q conviveram com Mauro, muitas não tocam no assunto e eu fico me perguntando se elas sentem a falta dele - não, claro que não sentem como eu sinto.
amanhã é aniversário de Raphaela e eu estou com um enorme nó no meio do peito.
hoje fui marquei entrevista com um psicologo amigo, mas ele cancelou.
tem horas que eu acho que preciso, tem outras que não.
tem dias que me sinto só, que nem a Fal falou... e não tem ninguém que pode mudar isto.
um beijo

nina disse...

luci,
queria muito te dar um abraço.
te abraçar por ser tão próxima, tão real, tão verdadeira.
não sei o que te dizer, apenas que gostaria de te abraçar.
estou contigo,
nina