11 setembro 2010

imaginário infinito

*
*
Um pescador resgatou uma gaivota que estava com a asa quebrada e encaminhou para uma equipe de biólogos no Guarujá. Ela teve a asa amputada, e depois de recuperada, foi devolvida para o seu bando na praia. Sem o impulso equilibrado de asas iguais, ela não conseguia mais pescar. Seus vôos não passavam de dois palmos do chão.
*
Retiraram-na do bando e a levaram para o aquário da cidade.
*
Depois de um período de quarentena, ela foi preparada para se adaptar às outras aves, no caso, os pingüins. Semelhantes à gaivota de asa amputada, os pingüins também não conseguem voar. A gaivota, junto com os pingüins de duas asas perfeitas, recebem sardinhas frescas na boca.*
*
Ela já mora no aquário há alguns anos. Toda branca, é a atração bizarra no meio das penas pretas dos companheiros de passos curtos. Com uma placa ao lado do visor, explicando a história da asa amputada, todos querem tirar foto dela - no meio dos amigos, é claro.
*
Entre ser morta, morrer de fome, ou virar bicho de estimação, não sabemos qual seria a melhor saída.

*

Hoje ela recebe alimento balanceado, não é rejeitada por outros, tem água limpa à disposição, atendimento veterinário 24 horas. É vista como vitoriosa entre os humanos. A maior dificuldade dela foi a adaptação à temperatura. Do calor da praia para o gelado polar.

*

(E talvez a lembrança de dias de sol e dias de chuva, em horizontes flutuantes de 360 graus.)

*
Se ela está viva? Sim, recebe um zelo especial dos tratadores.
Quando ficar velha, doente, cansada, prestes a morrer, vai ser socorrida novamente, de volta à vida, tantas vezes quantas forem necessárias.
*
Se ela preferia outro fim?
Talvez. 
Não sabemos.
Improvavél. Quem está vivo não quer outra coisa.
*
Talvez, gaivota.
*
*
imagem: Martha Rhoades-Spivey

http://www.mrsphotography.com/blog/wp-content/uploads/2010/08/_mrs0123-11.jpg
*

Nenhum comentário: