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Podem falar o que quiser do Guarujá, mas eu adoro aquele lugar. Do apê dá para ver o mar. Digo, se a gente fechar os olhos, dá para imaginar o mar, porque o barulho das ondas encosta bem pertinho dos terraços.
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Guarujá me lembra RPM no clube Orla, miojo empapado, aniversário no Rufino’s, balada no calçadão, mímica de filmes, apart-hotel em Astúrias, pneu furado em Pernambuco, piriri em Sorocotuba, cobertura privê na Enseada, Iporanga de mochila e alpargata, caldeirada no Joca’s, tatuagem número dois, festa de arromba na Península.
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Mudou muita coisa naquela cidade. Hoje tem até Sofitel (que eu conheço como a palma da mão.... blargh...). Minha fase de muvuca se foi e quando eu desço para o Guarú, levo mãe e filho. Invariavelmente. Três gerações cabem naquela cidade. Tem espaço para nós. Em especial naquele trecho de praia da barraca da Vera.
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A Vera cuida da gente. Mima o Felipe, sempre tem pirulito. Ele adora o picolé fininho de chocolate e a lula com cebola. No primeiro verão depois da morte do João, a Vera me deu uma árvore de turmalinas – para me trazer bons ventos. Naquela vez, ela enxugou meu rosto. Ela prepara o churrasco no pão francês do jeito que a minha mãe gosta. Quando mamãe se perde na multidão de guarda sóis vermelho-itaipavas, a Vera aparece e a traz de volta segurando carinhosamente pelo braço.
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- Dona K., a senhora esqueceu o que eu falei ontem? Quando a senhora se perder, é só procurar a barraca da Vera!
- É que fui andar um pouco... lá na San Pauro, eu ando todos os dias com meu marido e com cachorros...
- Lembra que eu falei que ficava perto do carrinho de milho do Geraldo? Se for andar na beirinha do mar, fica mais fácil achar o Geraldo. Se for pelo calçadão, procura a minha barraca. Olha, o Geraldo é aquele ali ó, tá bem?
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A Vera é muito atenciosa. Naquele dia, minha mãe foi andar pela beira do mar – e foi a Vera que a trouxe de volta.
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- Puxa mãe! Andou quase até o (hotel) Casa Grande? Não achou o carrinho do Geraldo?
- Sabe Nina, esse Geraldo é muito rico! Todos os carrinhos são dele! Daqui até o Casa Grande!
- Como assim mãe?
- Olha lá Nina! Lê o nome lá – e ela apontou em direção a um carrinho de milho.
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Estava escrito: Milho Verde e Coco Gelado
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É por isso que eu gosto do Guarujá. Na saída da praia a gente se despede do Geraldo, da Vera e do dia que desliza para trás da serra.
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